sexta-feira, 29 de março de 2013

LICENÇA CRÔNICA: ANDRA VALLADARES


Andra Valladares reside na cidade de Vila Velha/ES, exerce a profissão de advogada e atua no cenário cultural como cantora/compositora e poeta/escritora. Publicou poemas e textos em aproximadamente 30 antologias literárias. Em janeiro desse ano, lançou o CD "Andra Valladares", seu primeiro trabalho musical autoral. A obra tem patrocínio da Lei Vila Velha Cultura e Arte e Prefeitura Municipal de Vila Velha. Andra também é integrante do grupo lítero-musical "Vozes da Vila". Membro e atual presidente da Academia de Letras Humberto de Campos (Vila Velha/ES). Confira, abaixo, a crônica “Ócio criativo:

ÓCIO CRIATIVO

"Casas entre bananeiras
mulheres entre laranjeiras
pomar amor cantar.

Um homem vai devagar.
Um cachorro vai devagar.
Um burro vai devagar.

Devagar... as janelas olham.

Eta vida besta, meu Deus."

(Cidadezinha Qualquer - C. Drummond de Andrade)

O artista não precisa apenas de "inspiração e transpiração" para criar, também é de vital importância um tempo para o ócio, o sossego.

A mente descansada entra numa vibração diferente e torna-se um ambiente fértil para a criatividade, as ideias fluem como água de nascente: límpidas, frescas e serenas...

Às vezes o sono não é suficiente para relaxar, o stress começa cedo, com o toque do despertador. Nesses momentos, o paraíso seria arrumar as malas e seguir para um lugar afastado, bem no meio do mato.

Ao invés do odor de "dióxido de carbono", o aroma das flores, do capim e da terra molhada... No lugar do pó de minério, a poeira da estrada... O som dos passarinhos e insetos substituindo o monótono ruído dos automóveis com suas buzinas irritantes.

Simplesmente... Beber água fresca direto da bica, andar de pé no chão, respirar fundo e sentir o verde invadindo os pulmões. Sentar debaixo de uma árvore no final da tarde e ficar cismando ao som dos grilos, tendo como única preocupação as matizes de cores do ocaso...

Assistir o espetáculo da neblina descendo a montanha e invadindo a casa, como já presenciei certa vez. Essa imagem ainda é vívida em minha memória como um dos mais belos registros que meus sentidos já captaram, apesar de ter ocorrido há vinte anos.

Na hora do lanche, o café da roça, torrado na hora, acompanhado de um bolo simples ou mandioca cozida bem quentinha. À noite, curtir o friozinho e a paz num passeio para apreciar o luzir dos pirilampos na mata, com os ouvidos atentos aos inúmeros sons emitidos pelos animais e insetos noturnos.

Acender uma fogueira e reunir a família para contar causos, apreciar a empolgação das crianças com o crepitar do fogo, assar batata na brasa, tomar chá de capim cidreira colhido no quintal, para finamente dormir o sono dos justos e deixar o inconsciente processar através dos sonhos toda a riqueza de momentos vivenciados plenamente e eternizados no tempo...

Como me faz falta essa vivência e o contato com a natureza com sua abundância de imagens, sons, cheiros, sabores, texturas... Sem isso me sinto pobre, exaurida, oprimida e com vontade de “sumir do mapa”!

Privilegiado é quem pode fugir da cidade nos feriados e finais de semana para conectar-se com essa rica simplicidade, permitindo-se vivenciar o poema de Drummond e deixar a vida prosseguir devagar...

Enquanto aguardo tão precioso momento, permito-me ouvir no ecoar das batidas do coração aquela canção: “Eu quero uma casa no campo, do tamanho ideal, pau-a-pique e sapê... Onde possa plantar meus amigos, meus discos, meus livros e nada mais...”
  

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