quarta-feira, 13 de março de 2013

A RODA DA CULTURA E UM CONVITE À REFLEXÃO POLÍTICA



Existe algo fora da ordem entre a atual administração que governa a prefeitura da Ilha Vitória e a cultura? Penso que sim! Porque uma cultura identificada com as forças progressivas de nossa ilha interessada em promover a libertação genuína das artes vai fatalmente chocar-se com o atual mandatário, cuja postura vem indicando que cultura em sua administração não é prioridade. É uma conversa chata, mas arte, em quase todo o mundo, em última análise, com raras exceções já se encontram institucionalizadas, seja em países socialistas e/ou capitalistas como o nosso. Para que os artistas sobrevivam desempenhando uma missão cultural, é preciso que projetos sejam subvencionados. O governo do Ortopedista e atual Prefeito da capital Luciano Resende até o momento parece não reconhecer que existe vida inteligente na ilha, com capacidade artística, que entendam o poder revolucionário do seguimento. Quando as boas idéias não podem fluir, estamos vivenciando um retrocesso na roda. A divulgação do pensamento artístico não discrimina o terreno em que habita.

Aqui em nosso município, os censores estão afiando e polindo a guilhotina, frente a projetos que tem como meta estudar a dura realidade que nos coloca como o segundo maior estado nos índices de violência da federação. Aquele que tem o poder da caneta e quer verdadeiramente fazer cultura, e tiver a audácia de não se fundamentar em falsas teorias, conseguirá transformar a dura realidade em que se encontram nossos jovens. Fala-se muito no interesse dos governos em mudar uma contradição óbvia – ‘educação versos cultura’. Até agora medidas concretas não são visíveis a olho nu. Na falta de uma reflexão, opta-se pelo senso comum, isto é, por uma mistura de idéias feitas por “profissionais”, e projetos pífios que não avançam. Uma dessas evidências é o fato da troca do Secretário de Segurança, chegamos a um ponto estranho. Governar é dar suporte e facilitar incursões no cerne dos problemas. Por exemplo, são patéticos nossos orçamentos, só para se ter uma idéia, a dotação orçamentária para a área do audiovisual de Fortaleza é de “Onze Milhões”, o que deixa claro o quanto temos de avançar. Sem contar às contradições que assistimos: São fascinantes as contradições, pela coexistência de um raciocínio desconectado com as vanguardas.

Uma lógica fundamentada onde o pensamento e o brilho intelectual, assim como a originalidade, tenham que permanecer amordaçados por posições políticas que não as aceitam. Vamos mudar o eixo: A casa do cidadão é um exemplo da falta de entendimento do atual mandatário que precisa honrar compromissos assumidos em campanha (saudade de Luiz Paulo).  Um delegado e um Pastor não vão aperfeiçoar muito menos alcançar as nobres ações que contemplem o cidadão comum, que é a função primeira dessa casa do povo ou “Casa do Cidadão”. Esses senhores talvez sejam competentes em outras funções, mas lidar com diversidades é complicado. É preciso um reexame lúcido e justo de ideologias, religiões, filosofias e sistemas de pensamento, esquematizando uma divisão dos problemas e da realidade: A época em que vivemos hoje, onde habita o homem civilizado, não cabe uma cultura messiânica; uma síntese, um novo antropofagismo. Aristóteles declarou: “O homem inventou as artes plásticas, a poesia, a dança, a música, o teatro o circo”. E, enfim, o cinema. Ainda uma vez hoje se procura justificar politicamente as artes e dirigi-las, oprimi-las, fazê-las servirem um a causa ou uma razão de Estado. É inútil. Na verdade, artista e sociedade marcham juntos. A chamada vanguarda só possui sentido quando não é vanguarda de um artista individual, mas vanguarda de um povo empenhado em sua libertação que inclui todas as causas. Desta forma, caríssimos, o passado é revisto por quem vive o presente, com a consciência de mergulhar na história em busca de compreensão do mundo em que vivemos. Neste sentido, é preciso uma reflexão aberta, irônica e provocativa, crítica existencial e materialista sobre o significado tornado relativo, portanto passível de interpretação, dos problemas e do significado das traições impostas.

Precisamos ficar atentos a lucidez de muitas observações, às vezes substituída por uma total confusão de valores. Um romancista inglês cita um soldado que afirma que “Cristo não morreu na cruz” que foi salvo por Poncio Pilatos, “seu poderoso amigo ”, que permitiu que o retirassem da cruz sem a prova das pernas quebradas. São Pedro que passa para o lado dos que acusam Cristo, enquanto diversos galos cantam sem parar (ele pede para os galos calarem, mas o soldado vermelho diz que é impossível: tem um galinheiro aí atrás). E assim lembramos “Oswald”, que não tem  complacência com os valores religiosos e muito menos com a  mistificação burguesa,  triturados com um brilho intelectual fora do comum. Para fechar este artigo, caríssimos, vale também lembrar Érico Veríssimo em “O Arquipélago”, através  de um personagem, afirma: “Esta censura/ repressão interna, compadre, é pior do que a do famigerado DIP e talvez pior  que a da Gespado. Uma censura que vem de fora  pode ser iludida, há meios...mas essa...”. 


(Marcos Veronese é Jornalista, diretor de Cinema, membro do departamento Audiovisual do SATEDES e membro do Conselho de Cultura da Prefeitura Municipal de Vitoria)

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