Existe
algo fora da ordem entre a atual administração que governa a prefeitura da Ilha
Vitória e a cultura? Penso que sim! Porque uma cultura identificada com as
forças progressivas de nossa ilha interessada em promover a libertação genuína
das artes vai fatalmente chocar-se com o atual mandatário, cuja postura vem
indicando que cultura em sua administração não é prioridade. É uma conversa
chata, mas arte, em quase todo o mundo, em última análise, com raras exceções
já se encontram institucionalizadas, seja em países socialistas e/ou
capitalistas como o nosso. Para que os artistas sobrevivam desempenhando uma
missão cultural, é preciso que projetos sejam subvencionados. O governo do Ortopedista
e atual Prefeito da capital Luciano Resende
até o momento parece não reconhecer que existe vida inteligente na ilha, com
capacidade artística, que entendam o poder revolucionário do seguimento. Quando
as boas idéias não podem fluir, estamos vivenciando um retrocesso na roda. A
divulgação do pensamento artístico não discrimina o terreno em que habita.
Aqui
em nosso município, os censores estão afiando e polindo a guilhotina, frente a
projetos que tem como meta estudar a dura realidade que nos coloca como o
segundo maior estado nos índices de violência da federação. Aquele que tem o
poder da caneta e quer verdadeiramente fazer cultura, e tiver a audácia de não
se fundamentar em falsas teorias, conseguirá transformar a dura realidade em
que se encontram nossos jovens. Fala-se muito no interesse dos governos em
mudar uma contradição óbvia – ‘educação versos cultura’. Até agora medidas
concretas não são visíveis a olho nu. Na falta de uma reflexão, opta-se pelo
senso comum, isto é, por uma mistura de idéias feitas por “profissionais”, e
projetos pífios que não avançam. Uma dessas evidências é o fato da troca do
Secretário de Segurança, chegamos a um ponto estranho. Governar é dar suporte e
facilitar incursões no cerne dos problemas. Por exemplo, são patéticos nossos
orçamentos, só para se ter uma idéia, a dotação orçamentária para a área do
audiovisual de Fortaleza é de “Onze Milhões”, o que
deixa claro o quanto temos de avançar. Sem contar às contradições que
assistimos: São fascinantes as contradições, pela coexistência de um raciocínio
desconectado com as vanguardas.
Uma
lógica fundamentada onde o pensamento e o brilho intelectual, assim como a
originalidade, tenham que permanecer amordaçados por posições políticas que não
as aceitam. Vamos mudar o eixo: A casa do cidadão é um exemplo da falta de
entendimento do atual mandatário que precisa honrar compromissos assumidos em
campanha (saudade de Luiz Paulo). Um
delegado e um Pastor não vão aperfeiçoar muito menos alcançar as nobres ações
que contemplem o cidadão comum, que é a função primeira dessa casa do povo ou
“Casa do Cidadão”. Esses senhores talvez sejam competentes em outras funções,
mas lidar com diversidades é complicado. É preciso um reexame lúcido e justo de
ideologias, religiões, filosofias e sistemas de pensamento, esquematizando uma
divisão dos problemas e da realidade: A época em que vivemos hoje, onde habita
o homem civilizado, não cabe uma cultura messiânica; uma síntese, um novo
antropofagismo. Aristóteles declarou: “O homem
inventou as artes plásticas, a poesia, a dança, a música, o teatro o circo”. E,
enfim, o cinema. Ainda uma vez hoje se procura justificar politicamente as
artes e dirigi-las, oprimi-las, fazê-las servirem um a causa ou uma razão de
Estado. É inútil. Na verdade, artista e sociedade marcham juntos. A chamada
vanguarda só possui sentido quando não é vanguarda de um artista individual,
mas vanguarda de um povo empenhado em sua libertação que inclui todas as
causas. Desta forma, caríssimos, o passado é revisto por quem vive o presente,
com a consciência de mergulhar na história em busca de compreensão do mundo em
que vivemos. Neste sentido, é preciso uma reflexão aberta, irônica e
provocativa, crítica existencial e materialista sobre o significado tornado
relativo, portanto passível de interpretação, dos problemas e do significado
das traições impostas.
Precisamos
ficar atentos a lucidez de muitas observações, às vezes substituída por uma
total confusão de valores. Um romancista inglês cita um soldado que afirma que
“Cristo não morreu na cruz” que foi salvo por Poncio Pilatos,
“seu poderoso amigo ”, que permitiu que o retirassem da cruz sem a prova das
pernas quebradas. São Pedro que passa para o lado dos que acusam Cristo,
enquanto diversos galos cantam sem parar (ele pede para os galos calarem, mas o
soldado vermelho diz que é impossível: tem um galinheiro aí atrás). E assim
lembramos “Oswald”, que não tem complacência com os valores religiosos e
muito menos com a mistificação burguesa, triturados com um brilho
intelectual fora do comum. Para fechar este artigo, caríssimos, vale também
lembrar Érico Veríssimo em “O Arquipélago”, através de um
personagem, afirma: “Esta censura/ repressão interna, compadre, é pior do que a
do famigerado DIP e talvez pior que a da Gespado.
Uma censura que vem de fora pode ser iludida, há meios...mas essa...”.
(Marcos Veronese é Jornalista, diretor de Cinema, membro do
departamento Audiovisual do SATEDES e membro do Conselho de Cultura da
Prefeitura Municipal de Vitoria)
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