sábado, 21 de julho de 2012

LICENÇA POÉTICA: LÍCIA DALCIN


Lícia Dalcin (1974) nasceu em Caçapava do Sul –RS. É escritora e professora, mestre e doutoranda em Literatura, e mantém o blog liciadalcin.blogspot.com.br. Confira, abaixo, o poema “Poética”:

POÉTICA

Clarão de angústia subverbal.

Universo latente. Dor certa. Intermitente.

Momento a sós na verdade de outrem que não se mente.

Ter no imo o sabor intenso pelo toque de silêncio da língua universal.

Topada crua no dorso real. Carne exposta. Palavra posta.

Carnaval! Desaforo! Sinal! Urro. Sangue. Amostras.

Renascer do fim do mundo. Revés do sono profundo.

Paladar olfato direto nos olhares. Ambivalências milenares.

Em uma gota. Tudo.

Nudez sem pejo. Verdade sem tato.

Alteração repentina. Estrada bifurcada.

Fosso abissal sem ponte. Nada.

Intruso à mesa. O mal-estar que anda por aí!

Pavor. Grito de desespero na constatação do fato de si.


- Não firas. Terás ferido a ti.

A moita mente, a moita mente.

Antes crer na noite.

Naquela noite. Certa. Intermitente.


Ela não se esconde. Espreita.

A mim. A ti.

Eternamente.

- Eu vi.


Não me julgues.

O tempo existe em partículas de eternidade.

A vida! A vida! Uma? Várias.

Porções de eternidade que não entendemos - julgamos.

- Muito, muito mal distribuídas.

Veias vãs, intermináveis.

Inexequíveis. Instáveis.

Caminhos? Labirintos.

As vidas! As vidas!

Uma a uma em todas - todas,

perdidas.


A ordem: “cria!”

Perdido em olhares mortos

nas valas

incomensuráveis

profundíssimas

e tantas

valas valas e valas

- As vidas! As vidas!

“Persiste. Acende a vela.”

“Mergulha no que é teu engulho.”

Valas e valas.

“Exalam, sim – o próprio horror que tens a elas.”

Mas as vidas! “Acendeste a vela?”

“Vai procurá-las.”

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