Sandro Bahiense é professor, bibliotecário e amante das
coisas que envolvam escrita. Lançou em 2008, em parceria de Ricardo Salvalaio e
de mais 7 colegas poetas, a coletânia de poesias "8 Vezes Poeta", trabalho em que pôde expor um pouco de seus sentimentos e
arte. Ficou conhecido entre os colegas da UFES por fazer uma crônica para cada
um deles. Além de crônica e poesia, Sandro também escreve artigos de opinião,
contos e máximas. Tais trabalhos
podem ser vistos em seu próprio blog cujo endereço é http://sandrobahiense.blogspot.com/.
Sandro trabalha também, claro, neste blog como um dos colunistas.
Confira, abaixo, o conto “A bailarina”:
A BAILARINA
A
vida é uma arte e para Mel cada passo dado é uma marcação a ser seguida. Ela
inexplicavelmente escolheu a dança e a dança inexplicavelmente a escolheu. De
um casamento improvável nasceu uma aliança mágica. Ela, inerente a tudo,
achava-se incapaz de bailar e vivia insolitamente uma vida sem graça e sem
ritmo. Era assim que Mel se via. Como alguém sem capacidade de mexer um dedinho
sequer com graciosidade. Achava-se a mais desajeitada de todas. Nunca cogitaria
o que estava por vir. Até que um dia aconteceu: Aquele que mais brilha a
indicou um caminho, a direção mais bela de todas, o da arte. E como quem não
quer nada, foi Mel trilhar esse caminho: A arte de dançar. E lá foi nossa
aprendiz galgando passo a passo o rumo da dança, treinando incessantemente.
Caia e levantava, errava e acertava, e assim foi. Doíam seus pés, doíam suas
pernas, mais valia, Mel estava cada dia mais graciosa. Até que ela
inesquecivelmente descobriu uma paixão, foi assim, em um dia, em um momento...
Viu-se não mais como uma aprendiz, mas como uma apaixonada. E a dança deixou de
ser um divertimento e virou amor.
Foi
por esse amor que Mel se desdobrava buscando maiores conhecimentos a cerca da
arte de bailar, foi por esse amor que ela inefavelmente percorria grandes
distancias para encontrar as melhores professoras, foi por esse amor que
gastava seu tempo, seu dinheiro, sua vida, enfim, tudo, por um amor. Sabia que
agora estava levando uma mensagem através da dança e que os atrozes, que
infelizmente são normais na vida, não a afetariam, pois estava tomada por este
amor. Mel estava feliz. Mas a vida nem sempre é bela, às vezes pode ser muito
má também, e foi Mel saborear o pior dos sabores: O da perda. Mel chorou. E
ficou infeliz. Mas foi seu amor que a salvou da amargura. O amor que a fez
aceitar, que a fez entender que nem tudo pode ser entendido às vezes. Que não
podíamos perder nossa essência nunca. Afinal Mel não combina com amargura. E a
dança lhe guiou de volta, lhe pôs eixo na vida, o eixo correto que ela sempre
seguiu, e foi Mel dançar para quem quisesse ver, e se deleitar. Ela era divina.
Cruel
aí nesse momento só o descaso poderia ser, e foi. E nossa estrela cansou de
brilhar nos palcos e passou somente a contemplar outras estrelas de longe,
simplesmente admirando o que tem de mais lindo nessa vida para ela. Mas seu
brilho é igual, insuperavelmente belo e de raro esplendor. Isso Mel não perderá
nunca, seu brilho. Ela inesquecivelmente está gravada na constelação das
estrelas mais brilhantes do céu, reluzindo na terra todo esplendor que é ser
uma bailarina. Dizem que Mel hoje tem um outro amor. E que é profundamente
admirada por esse amor. Um namorado que quer guardar numa caixinha toda sua
luz, para ficar cego com tamanha beleza e se embriagar com tamanha doçura. Hoje
Mel não dança mais, mas seu namorado sempre diz que há um pouco dela no balé
que as nuvens dão a cada amanhecer.
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