sábado, 20 de abril de 2013

LICENÇA PARA CONTAR: SANDRO BAHIENSE



Sandro Bahiense é professor, bibliotecário e amante das coisas que envolvam escrita. Lançou em 2008, em parceria de Ricardo Salvalaio e de mais 7 colegas poetas, a coletânia de poesias "8 Vezes Poeta", trabalho em que pôde expor um pouco de seus sentimentos e arte. Ficou conhecido entre os colegas da UFES por fazer uma crônica para cada um deles. Além de crônica e poesia, Sandro também escreve artigos de opinião, contos e máximas. Tais trabalhos podem ser vistos em seu próprio blog cujo endereço é http://sandrobahiense.blogspot.com/. Sandro trabalha também, claro, neste blog como um dos colunistas. Confira, abaixo, o conto “A bailarina”:

A BAILARINA

A vida é uma arte e para Mel cada passo dado é uma marcação a ser seguida. Ela inexplicavelmente escolheu a dança e a dança inexplicavelmente a escolheu. De um casamento improvável nasceu uma aliança mágica. Ela, inerente a tudo, achava-se incapaz de bailar e vivia insolitamente uma vida sem graça e sem ritmo. Era assim que Mel se via. Como alguém sem capacidade de mexer um dedinho sequer com graciosidade. Achava-se a mais desajeitada de todas. Nunca cogitaria o que estava por vir. Até que um dia aconteceu: Aquele que mais brilha a indicou um caminho, a direção mais bela de todas, o da arte. E como quem não quer nada, foi Mel trilhar esse caminho: A arte de dançar. E lá foi nossa aprendiz galgando passo a passo o rumo da dança, treinando incessantemente. Caia e levantava, errava e acertava, e assim foi. Doíam seus pés, doíam suas pernas, mais valia, Mel estava cada dia mais graciosa. Até que ela inesquecivelmente descobriu uma paixão, foi assim, em um dia, em um momento... Viu-se não mais como uma aprendiz, mas como uma apaixonada. E a dança deixou de ser um divertimento e virou amor.

Foi por esse amor que Mel se desdobrava buscando maiores conhecimentos a cerca da arte de bailar, foi por esse amor que ela inefavelmente percorria grandes distancias para encontrar as melhores professoras, foi por esse amor que gastava seu tempo, seu dinheiro, sua vida, enfim, tudo, por um amor. Sabia que agora estava levando uma mensagem através da dança e que os atrozes, que infelizmente são normais na vida, não a afetariam, pois estava tomada por este amor. Mel estava feliz. Mas a vida nem sempre é bela, às vezes pode ser muito má também, e foi Mel saborear o pior dos sabores: O da perda. Mel chorou. E ficou infeliz. Mas foi seu amor que a salvou da amargura. O amor que a fez aceitar, que a fez entender que nem tudo pode ser entendido às vezes. Que não podíamos perder nossa essência nunca. Afinal Mel não combina com amargura. E a dança lhe guiou de volta, lhe pôs eixo na vida, o eixo correto que ela sempre seguiu, e foi Mel dançar para quem quisesse ver, e se deleitar. Ela era divina.

Cruel aí nesse momento só o descaso poderia ser, e foi. E nossa estrela cansou de brilhar nos palcos e passou somente a contemplar outras estrelas de longe, simplesmente admirando o que tem de mais lindo nessa vida para ela. Mas seu brilho é igual, insuperavelmente belo e de raro esplendor. Isso Mel não perderá nunca, seu brilho. Ela inesquecivelmente está gravada na constelação das estrelas mais brilhantes do céu, reluzindo na terra todo esplendor que é ser uma bailarina. Dizem que Mel hoje tem um outro amor. E que é profundamente admirada por esse amor. Um namorado que quer guardar numa caixinha toda sua luz, para ficar cego com tamanha beleza e se embriagar com tamanha doçura. Hoje Mel não dança mais, mas seu namorado sempre diz que há um pouco dela no balé que as nuvens dão a cada amanhecer.     



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