Qualquer cinéfilo que acompanha as novidades da sétima arte, e por isso sabe com antecedência quais as produções estrangeiras que estão para estrear, geralmente fica surpreso quando os filmes finalmente chegam ao Brasil e recebem seus títulos em português. A certa altura, todos já se perguntaram quais os critérios para traduzir o nome de uma obra. Unindo a paixão pelo cinema com sua profissão de tradutor, o gaúcho Iuri Abreu, 37, reuniu em livro vários casos curiosos em “Perdidos na Tradução”. Saiba mais.
Livro mostra casos curiosos de como os filmes recebem os títulos no Brasil
"Perdidos na Tradução" reúne mais de 200 títulos, entre bizarros e criativos, que os filmes recebem ao serem lançados no Brasil e em Portugal
Publicados a princípio num blog, os mais de 200 nomes revelam ideias bizarras, títulos que entregam muito da trama e outros mais criativos que os originais, tudo dividido em cinco categorias – A Maldição do Subtítulo, Poesia Pura, Liberdade Total, Fiéis ao Original e Entregando o Jogo. Nas quase 300 páginas do livro, Abreu discorre com humor sobre cada escolha, destaca os méritos e as mancadas, e ainda compara com os nomes adotados em Portugal.
“Tinha curiosidade de saber se nos outros países também poderíamos encontrar pérolas, e percebi que sim. Inclusive, o título mais absurdo foi dos portugueses para “Pequena Miss Sunshine”. Eles escolheram “Uma Família à Beira de um Ataque de Nervos”, que remete ao filme do espanhol Pedro Almodóvar e é uma referência nada a ver”, analisa.
O tradutor afirma que uma das principais motivações para as escolhas é mercadológica. Vender uma comédia com palavras-chave como “loucura” e “atrapalhada”, filmes de terror com “maldição” e policiais com sinônimos de “crime” são constantes entre as escolhas.
Entretanto, ele reconhece que, às vezes, manter o nome original não é mesmo a melhor opção. “O ‘Poderoso Chefão’, por exemplo, é um dos clássicos que fica bem melhor do que ‘O Padrinho’. O mesmo acontece com “Bonequinha de Luxo” (que na tradução literal seria ‘Café da Manhã na Tyffany’s’)”, conclui.
Um dos criadores de títulos da distribuidora Playarte no país, Thiago Cardim explica que vários critérios são levados em consideração. “Sempre que dá para manter o original, mantenho. Mas precisamos lembrar que o ‘produto’ deve ser atrativo, chegar a diferentes públicos e ser de fácil assimilação. Temos uma profissão muito inglória (risos). As pessoas não têm ideia do quanto é difícil essa escolha. Faço uma lista de uns 40 nomes antes de eu e minha equipe escolhermos o melhor”, comenta.
Mancadas e acertos das traduções
A MALDIÇÃO DO SUBTÍTULO
Foto: Divulgação
Bonequinha de Luxo é um exemplo que a troca do título durante a tradução favorece o filme
American Pie – A Primeira Vez é Inesquecível (1999)
O original, “American Pie”, em tradução literal seria “Torta Americana”. Para Abreu, o complemento explica demais a história.
Blade Runner – O Caçador de Androides (1982)
O original, “Blade Runner”, significa corredor de lâminas, nada atrativo e de difícil tradução. Em português, remetendo à função do personagem: caçar e destruir androides.
Rambo – Programado para Matar (1982)
Em tradução literal, seria “Rambo – Primeiro Sangue”. Para Abreu, o adendo brasileiro parece se referir a um robô e não a um homem.
Debi & Loide – Dois Idiotas em Apuros (1994)
“Dumb & Dumber” (Burro & Mais Burro) ganhou uma adaptação para o português e um subtítulo dispensável, que entrega a história.
POESIA PURA
Assim Caminha a Humanidade (1956)
Em tradução literal, seria “Gigante”. O título em português ficou famoso e até se transformou em música de Lulu Santos. Abreu brinca e convoca o autor de tal criação a se manifestar.
Os Brutos Também Amam (1953)
O autor se surpreende com a criatividade da versão brasileira do filme, que no original chama-se “Shane”, nome do protagonista.
Bonequinha de Luxo (1961)
Para o autor, este é um dos maiores acertos. No original, é “Café da Manhã na Tyffany’s”.
O Poderoso Chefão (1972)
É quase uma unanimidade que a versão em português ficou melhor do que a tradução literal, “O Padrinho”.
LIBERDADE TOTAL
Apertem os Cintos, o Piloto Sumiu (1980)
Nao original, o nome é simplesmente “Avião”. Mas o besteirol ficou mais atrativo.
Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977)
No clássico filme de Woody Allen, “Annie Hall”, os autores criaram uma versão difícil de ser esquecida.
O Lado Bom da Vida (2012)
A tradução literal seria “Manual dos Fios de Prata”, inspirado em ditado otimista em inglês, algo como “depois da tempestade vem a bonança”.
Uma Babá Quase Perfeita (1993)
“Mrs. Doubtfire” não funcionaria no país. O título escolhido consegue resumir bem a senhora interpretada por Robin Williams.
FIÉIS AO ORIGINAL
Bastardos Inglórios (2009)
Pequena Miss Sunshine (2006)
Kramer vs Kramer (1979)
Os Bons Companheiros (1990)
ENTREGANDO O JOGO
Curtindo a Vida Adoidado (1986)
Apesar de entregar que muita diversão espera o espectador, funciona o título para “Ferris Bueller’s Day Off” (o dia de folga de Ferris Bueller).
A Primeira Noite de um Homem (1967)
Ao pé da letra, “O Formado”. Em português, já revela que a virgindade de Dustin Hoffman é tema do longa.
Como se Fosse a Primeira Vez (2004)
Literalmente, seria “50 Primeiros Encontros”. Para Abreu, a versão em português dá a entender que é algo tão bom que parece sempre a primeira vez, e não devido à doença da protagonista.
Um Corpo que Cai
“Vertigo”, no original. Abreu não acha ruim a versão brasileira, mas critica a de Portugal, “A Mulher que Viveu Duas Vezes”.
Confira
Perdidos na Tradução
Iuri Abreu
BelasLetras, 284 páginas
Preço: 29,90.
Fonte: A Gazeta
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