Nascido no Paraná, mas radicado no
estado do Espírito Santo, Aparecido
Raimundo de Souza desponta como uma grande opção de boa literatura nos dias
atuais. Autor de pelo menos oito livros publicados, Aparecido tem por maior
característica a engenhosidade em sua concepção. De muito bom humor e
criatividade, títulos como 'A Outra perna do Saci' e 'Refugio Para Cornos
Avariados', por exemplo, mostram muito bem o conteúdo de suas obras que vão
desde romances, contos, e máximas até citações de grandes mestres da literatura
nacional e mundial. Além do conteúdo nos livros publicados, Aparecido também
expõe alguns de seus contos e crônicas no blog "Para Ler e Pensar" (http://www.paralerepensar.com.br/aparecidoraimundo.htm).
Neles estão contidos os mais variados temas que vão desde contos de humor a
belas reflexões acerca da vida e de nossos sentimentos. Confira, abaixo, a
entrevista com o escritor:
1 – Olá, Aparecido! Como as artes entraram em sua vida? A literatura
foi sua primeira paixão? Quando foi que você teve um “estalo” e decidiu começar
a escrever? Lembra-se da primeira produção que pôs num papel? Sobre o que era?
Resposta: As artes (principalmente, a
literatura) entraram em minha vida muito cedo. Escrevo desde os 12 para 13
anos. Posso dizer, sem medo de errar que a literatura foi a minha primeira
paixão. Amor à primeira frase escrita. O “estalo” se deu quando, em São Paulo, ou mais
precisamente em Osasco, onde morava com meus pais, passei a publicar minhas
frases no Jornal Diário de Osasco, onde, mais tarde, ao completar 18 anos,
passei a ser responsável por uma coluna chamada “Sociedade”. Isso fugia um pouco
daquilo que eu pretendia, mas, só o fato de estar diariamente aparecendo num
jornal de grande tiragem, tipo “O Globo”, do Rio de Janeiro e o “Zero Hora” de
Porto Alegre, já era um começo, uma porta que se abria. Fiz essa coluna por
mais de 5 anos, onde, aliás, me tornei conhecido não só na região, como
igualmente em cidades adjacentes, como Carapicuiba, Barueri, Jardim Silveira,
Cotia Santana do Parnaíba e outras mais. A minha primeira produção literária,
se é que posso chamar assim, foi um “romance biografia” que escrevi, “Talvez eu
volte para casa na primavera”, falando da minha infância difícil, da escola,
dos amigos, da primeira namoradinha... Esse trabalho nunca chegou a público.
2 – Qual foi seu primeiro livro publicado? Conte-nos como se deu sua
concepção até o período do lançamento? Foi por alguma editora ou independente?
Hoje, percebemos que você tem uma sólida parceria com a Editora Sucesso.
Resposta: Meu primeiro trabalho em livro foi
“Quem se abilita? (sem o h mesmo), pela Papel&Virtual uma editora do Rio de
Janeiro. Nesse livro eu reuni 25 crônicas os mais diversos temas, inclusive
inseri dois textos que fugiam a concepção original do livro, ou seja, não diziam respeito aos meus temas corriqueiros. Eram
textos jornalísticos, publicados em jornais de São Paulo onde eu metia o malho
no então presidente Lula e outras autoridades constituídas. A concepção do
livro, em si, surgiu a partir do momento em que o Tomas Adour, editor chefe da
Papel&Virtual Editora, leu um texto meu no site “Para Ler e pensar” e
mandou um e-mail para a redação da revista que eu escrevia, a ISTO É GENTE, dizendo
que gostara muito e querendo saber se eu tinha material engavetado que pudesse
ser transformado em livro. O
“Quem se abilita?”, embora tenha sido um livro com prefácio do escritor Paulo
Coelho, de quem me tornei amigo particular, foi o primeiro trabalho que me trouxe,
em paralelo, os primeiros problemas junto a justiça, por conta de dois textos “O
que é isso, companheiro?” e “Do veludo às pocilgas”, que me renderam vários
processos na esfera judicial. Depois fui contratado pela Taba Cultural, do José
Maria, uma outra editora, também com sede no Rio de Janeiro. Por essa editora,
eu republiquei o “Quem se abilita?”, que chegou a sair em três edições. Depois
vieram “Tudo o que eu gostaria de ter dito”, “Com os chifres à flor da cabeça”
e “Refúgio para cornos avariados”. Por fim, assinei com a Sucesso, editora de
São Paulo, da Denise Barros, onde estou até hoje e, por onde publiquei, até
agora 12 títulos inéditos.
3 – Aliás, gostaríamos que você emitisse uma opinião acerca disso.
Você acha que a presença de editoras ajudam ou atrapalharam a produção de um
autor? Estando independente, teoricamente liberado para fazer o que quisesse, um
autor poderia produzir “melhor” ou isto é indiferente?
Resposta: Dependendo da editora, ela
atrapalha sim, e muito, o escritor iniciante. E como atrapalha? Impondo normas,
interferindo na criatividade artística, enxugando textos, limitando o autor a
escrever o que ela quer, sobre os temas que ela dita, com tantas linhas, tantos
caracteres, sem ultrapassar aquele determinado número de páginas, etc. etc, sem
contar que os originais passam pelo crivo dos chamados “corpos editoriais”, a
meu ver, encabeçado por um bando de velhos superados, fora de forma, se achando
donos da verdade, escritores em fim de carreira. Diante desse quadro, o
escritor se submete, ou corre o risco de permanecer no anonimato. Ao contrário,
a produção independente, bancada pelo próprio bolso, o escritor iniciante tem
autonomia, dispõe de mais campo, contudo esbarra na mediocridade dos grandes
livreiros, e, via de fato, se vê preso nas malhas das grandes livrarias, que
não expõem seus trabalhos, e, quando o faz, limita o infeliz aos fundos das
lojas, onde o acesso do público é nenhum.
4 – Quanto a seus livros, percebemos alguns títulos e conteúdos bem
originais como 'A Outra perna do Saci' e
'Refugio Para Cornos Avariados', por exemplo. De onde você tira tais ideias?
Resposta: Da
vivencia, da experiência, da observação da vida, do dia a dia, das conversas e bate
papos.
5 – Você foca no ser humano em seu trabalho, fugindo
de invencionismos sobrenaturais ou coisas do tipo, remando ao contrário do que
tem sido a coqueluche literária do momento. Por quê? Estilo? Não remar a favor
da maré lhe afetou negativamente em algum momento?
Resposta: Tenho
meu próprio estilo. O cotidiano. E ele é rico em temas sem precisar apelar para
as coisas sobrenaturais. Não importa qual seja a coqueluche do momento. O que
me causa incômodo são os grandes editores, como a Rocco, a Objetiva, a Companhia
das Letras, a Sextante, darem mais valor aos “empacotados” vindos de fora,
quando essas editoras poderiam ficar ricas investindo um pouco mais em nossos
autores. De qualquer forma, esses empecilhos não me atingem, e, em razão disso,
não me vejo remando contra a maré.
6 – Inclusive, falando em invencionismos
sobrenaturais, o que você acha dessa moda ‘Crepusculesca’ que tem invadido
nossas livrarias e bibliotecas? São válidas? Uma geração que cresce lendo
fenômenos pops como ‘Crepúsculo’ ou ‘50 Tons de Cinza’ pode “evoluir”
literaturamente ou está fadado a viver sempre lendo livros de “qualidade
menor”?
Resposta: Nenhum
livro, por mais esdrúxulo que seja seu tema central, deve ser considerado de
qualidade menor. Não devemos esquecer que há público para todos os gostos e
gêneros. A moda ‘Crepusculesca’ está bem em evidência, assim como outros temas,
como o espiritismo, os livros de autoajuda, os romances de amor, os romances
biográficos, os de enredos policiais, enfim, tudo é valido, tudo é literatura e,
por essa razão, o bom leitor, o leitor assíduo e atento, assim como eu me
considero, deve ler de tudo, inclusive, bulas de remédios.
7 – Quem fatalmente não incentiva livros de fenômenos
pops é o governo que, normalmente, através de leis de incentivo cultural, ajuda
novos escritores a publicarem seus trabalhos. O que você acha de tais leis? São
válidas ou pecam em somente investir na publicação do trabalho e não também em
sua propaganda e distribuição?
Resposta: As
leis de incentivo a cultura, para mim, não existem. E o governo não dá nenhum
tipo de ajuda nesse seguimento. As leis existentes fazem parte de uma máfia,
assim como a maçonaria. Estou cansado de ver autores bons, de talento
comprovado, mas de pés amarrados, a cata de uma oportunidade. Esses
companheiros vivem por ai, de pires nas mãos, atrás dessas leis medíocres,
implorando por uma oportunidade que nunca chegará. As leis de incentivo são
válidas para aquelas figuras puxa-sacos, ou seja, os escritores que dispõe de algum
tipo de apadrinhamento e não para aqueles que realmente deveriam merecer uma
oportunidade. Já não quero falar na mídia local, que, por sua vez, não dá
chance, não abre portas, não prestigia. Ao contrario, quando aparece um
escritor de fora, os editores locais abrem as pernas e dedicam paginas inteiras
em seus cadernos de literatura.
8 – Você já publicou quase 20 livros. Qual dica que
você dá a autores que queiram, um dia, chegarem a sua marca?
Resposta: Não
desistir nunca do sonho. Escrever sempre. E publicar, lógico. Nenhum escritor é
bom ficando engavetado. Nenhum escritor será reconhecido estando nos arquivos
do seu computador. Jamais ser ligado a sua terra de modo ferrenho. O que isso
quer dizer? Falar só da sua terra, das
coisas do seu mundinho particular. Jorge Amado fez isso, ficou conhecido no
mundo inteiro, mas os tempos de Jorge eram outros. Ele vivia num estado que
dava valor a cultura. No Espírito Santo, os autores que tratam, em seus livros,
abordando coisas estritamente do Estado, não vão para frente. Mofam nas
livrarias. Nos meus 20 trabalhos publicados, jamais o leitor encontrará um
personagem andando em
Jardim Camburi, Centro de Vitória ou Praia da Costa. Meus
personagens são do mundo e vivem fora desse universo que considero retrógrado e
tacanho.
9 – Seja em seus livros ou no seu blog, você escreve
desde romances, a contos, crônicas e máximas. Como consegue passear por tantos
caminhos diferentes de escrita com tamanha qualidade? Dê-nos o mapa da mina.
Resposta: Não
existe uma fórmula mágica para o mapa da mina. Contudo, é bom deixar claro que
para atingir uma certa qualidade, o melhor
caminho a seguir é o cidadão que escreve, que lê muito, principalmente dicionários. No mais,
estar “linkado” em tudo, para saber discutir qualquer tipo de assunto e não
fazer feio em público.
10 – Aliás, falando em seu blog, nos dê o endereço
dele. O que podemos encontrar lá?
Resposta: Não
tenho um blog exclusivo. Falta tempo para ficar alimentando diariamente com
textos novos. Porém, graças a Deus, outras pessoas ligadas a literatura, a
cultura, ao entretenimento, tem publicado e republicado artigos meus, às vezes
blogueiros que nem sei como tomaram conhecimento dos meus trabalhos. Se o
leitor for no Google, por exemplo, e digitar meu nome todo, certamente se verá
direcionado a uma infinidade de páginas falando ao meu respeito, assim como no
YouTube. Textos meus viraram vídeos de boa qualidade, o que me deixa satisfeito,
e, de certa forma, realizado.
11 – Você tem acompanhado a vida literária atual do
estado? Conhece alguém jovem, de talento e valor que possa nos indicar?
Resposta: Embora
resida em Vila Velha
há 30 anos, onde, aliás, sou mais turista que morador (visto que paro muito
pouco em casa, por causa da revista que escrevo e, por conta dela, fico muito
tempo fora do Estado), tenho acompanhado, de perto, a vida literária do Estado.
Temos muitos autores bons, de talento incondicional, porém, como já disse
anteriormente, o Espírito Santo não dá valor a sua cultura, aos seus talentos e
acredito que, por essa razão, essas pérolas estão propensas a caírem no
esquecimento.
12 – Aproveitando sua fala anterior, qual panorama
você nos dá a respeito da produção artística do estado do Espírito Santo? Onde
estamos acertando? Onde podemos melhorar?
Resposta: Não
vejo uma boa panorâmica, a respeito da produção artística local. Como disse, temos
muitos talentos, muitos escritores bons, muitos cantores bons, muita gente boa,
em outros seguimentos ligados a arte, mas, a imprensa não ajuda a mídia não abre
espaço, não abre portas, não dá oportunidade para o cidadão deslanchar Em vista
disso, a panorâmica é péssima, o caminho a ser seguido é coberto por negras
nuvens num céu que deveria ser de brigadeiro. Resumindo, não vejo, de imediato,
nenhum acerto. Poderia melhorar? Sim. Como? Dando mais oportunidade aos
emergentes, aos que estão chegando agora, e deixando um pouco de lado as
celebridades, os famosos que são paparicados com excesso, pela imprensa local.
Sei de figuras que saem diariamente nos jornais, muitos deles, por incrível que
pareça, nunca puseram os pés nesta terra e, portanto, nem sabem para que lado
fica o Espírito Santo.
13 –Além de autor de livros, você também é compositor
musical. Como surgiu mais esta verve?
Resposta: Procuro
diversificar meu trabalho sempre. Atiro para todos os lados. Ficar estagnado,
parado, é morrer aos poucos numa lentidão enervante. Assim, se não dá certo por
um lado, pode se acertar pelo outro.
14 – Qual seu processo de composição musical?
Primeiro você escreve a letra ou a melodia?
Resposta: Geralmente,
faço a música e a letra de uma só vez. Quando trabalho em parceria, como no
caso da composição “Don’t Say GoodBye” (Não diga adeus), gravado recentemente
pela dupla sertaneja Alisson&João Fabio, eu mandei a letra para o Alisson e
ele colocou a melodia. A respeito disso, o disco sai agora em finais de maio.
15 – Diga-nos como podemos contactá-lo caso queíramos
adquirir alguma de suas obras ou conhecer mais o seu trabalho?
Resposta: Quem
quiser falar comigo, é só escrever para aparecidoraimundodesouza@gmail.com
ou para minha secretária Carina Bratt (carinabrattistoegente@hotmail.com).
Ela fica no ar dia e noite (risos). Quanto aos pedidos de livros, podem ser
adquiridos com a Tatiana Gomes Neves, no tatianagomesnevesistoegente@hotmail.com.
Para conhecer mais do meu trabalho, basta acessar o “Google” ou o “YouTube” e
digitar meu nome completo, ou o de Carina Bratt. Um link direciona ao outro e
vice versa.
16 – Quais são seus projetos futuros? O que podemos
esperar deste autor multifacetado para 2013?
Resposta: Meus projetos são
muitos, claro. Novos livros, novos temas, e uma novidade: Uma cineasta do Rio
de Janeiro, Gabriella Slovick está filmando um texto meu: (http://www.recantodasletras.com.br/roteirosdeteatro/240562),
além de roteiro já adaptado para teatro que acaba de se transformar num curta
metragem. Afora isso, está saindo até o final de março, por uma editora nova do
Rio de janeiro, com quem acabei de assinar contrato, a AMC Guedes, um livro
meu, já publicado, “Cinco Contra 1”,
em formato novo, capa nova, tratamento gráfico de primeira. E para o inicio de
Abril, sai por essa mesma editora um livro com crônicas inéditas: “As
confissões de um pau perfeito”.
Adorei o seu depoimento sobre as dificuldades de ser um escritor num país que não da valor a cultura. Mas acredite, você é um vencedor, siga em frente, este é o caminho. Sucesso amigo. Bjs
ResponderExcluir