Lucimar
Simon
nasceu em Linhares – ES em 1977. Suas influências são diversas perpassando por
autores de Clássicos da Literatura Brasileira e Estrangeira. Busca ler e
acompanhar a Literatura Contemporânea bem como os ditos “poetas marginais”.
Seus textos compõem uma escrita simples dedicada a fatos cotidianos, memórias,
experiências acadêmicas e sua vida pessoal, e podem ser conferidos em
Antologias e Coleções Poéticas da Câmara Brasileira de Jovens Escritores em:
“Novos Talentos do Conto Brasileiro”, “Contos de Outono”, “Livro de Ouro do
Conto Brasileiro”(2009) e “Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos Nº 54”,
todos publicados em 2009. Lucimar Simon é Graduado em História pela
UFES. Pós Graduado em História e Literatura – Texto e Contexto pela UFES. Confira,
abaixo, o conto “Auroras...Memórias...”:
AURORAS...
MEMÓRIAS...
O sino tocou, o cavalo relinchou quase ao mesmo
tempo em que o galo cantava... A vida
nascia outra vez em dias de roça... Espreguiçava o corpo, mas não tinha muito
tempo para isso. O gato chegava e gruía ao seu ouvido fazendo um ronronar de
amizade infinita e vontade de um carinho de seu dono. Os felinos são tão dóceis
quanto os caninos que não adentravam as portas da casa onde se repousavam os
humanos. Não tão perto, não tão longe se mantinham essas relações. A figura
magra esquelética em plena cozinha se postava. Não sorria, e oferecia uma
caneca de café preto como o breu, forte como um touro que berrava no curral
junto às vacas que se seriam em seguida ordenhadas pelo homem de
responsabilidade, mas ainda criança em sua idade cronológica.
Era assim, e o dia chegava tão cedo quanto cedo
chegou os calos em suas mãos, tão cedo quanto chegou suas decepções, tão cedo
quanto chegou seus dias de amargura no café preto que já não mais saboreava e
sim o engolia para depois cumprir todos os ofícios diários que lhe pediam e
exigiam aos seus 10 anos de idade. As galinhas cacarejam, os porcos roncam demonstrando
sua fome da lavagem, fome das sobras humanas, felizes são os porcos e os perus que
morrem em dia de ação de graças... Felizes os homens que sobrevivem o dia de
ação de graças. Batendo nos coxos solta a ração, dando um grito chegam se as
galinhas e seus descendentes. Galinha era um prato muito bem servido aos
domingos e seguia acompanhado de macarrão, arroz e feijão cortado no
liquidificador velho, tão velho quanto à bisavó que só se levantava da cama
para comer e tomar banho.
A bisavó não era a dele, mas a considerava tomando
a benção sempre que se levantava e sempre que ia deitar. Dias cansativos.
Noites curtas. Tempos bons e ruins são os tempos em que o bom era ser travesso.
O melhor dessa estória era entrar no paiol e brincar com as cabras, e melhor ainda
era brincar com as meninas filhas dos meeiros. Menino adotivo ou agregado em
família tradicional aos10 anos de idade sofre, mas também se diverte. Era tudo
muito furtivo e vez ou outra era a criança surpreendida com cara de mal feitor.
As roupas mal arrumadas e ainda com seu membro sexual ereto corria em disparada
para o mato e lá ficava até a noite. Logo depois deixava ser apanhado para pagar
pelo crime que cometeria de novo na primeira oportunidade que tivesse. São
assim as auroras. As auroras de um menino de 10 anos de idade adotivo ou
agregado em casa de família tradicional no interior do estado do Espírito Santo
em meados da década de 80.
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