TATIANA
BRIOSCHI, poeta e
contista, é capixaba de coração e escreve desde os 10 anos. É formada em
comunicação pela UFES e representou o Brasil em Tóquio no concurso cultural
Miss e Mister Universitários Internacional, ganhando o concurso. Participou do
livro da SECUL "Edital de Contos" e lançou os livros "Vila Velha
Mundo" e “Se os desse a você - poemas” (virtual), assim como dois
concursos de contos pela internet. Tem incursões em várias áreas, como
teatro, cinema e dança, além de ter vários poemas seus publicados no
DIO-ES. Sua temática tende a observar os fatos do cotidiano, a realidade
social. Confira, abaixo, a terceira parte do conto “A enseada e a
vendedora”:
A
ENSEADA E A VENDEDORA (3ª parte)
[...]
Decidi então
ensinar português a um grupo de cinco pessoas utilizando uma salinha ao lado do
depósito, que fora o cheiro de podre deu um bom lugar para as aulas, e assim
fiquei por vários meses mas ao chegar no adjunto adverbial já estava entediada
e então comprei passagem ferroviária só de ida para Constantinopla (que na
estação descobri havia mudado de nome para Istambul) e pus-me a caminho. Havia
comprado assento de segunda classe e lá pude observar as inúmeras brigas de
casais por motivos banais, o que causou-me pena, pedi licença e intrometi-me
nas brigas tomando partido hora de um, outra de outro, até que os casais já
vinham naturalmente a mim antes de brigarem efetivamente para pedir-me
conselhos. Estes aconselhamentos matrimoniais continuaram por toda a viagem e
combinei com o bilheteiro para trazer outros casais da primeira classe para
aconselhamentos também.
O bilheteiro, embora meio lento, era simpático, e começamos a flertar involuntariamente até que nosso romance tornou-se inevitável e terminei a viagem entre beijos e abraços. Em Istambul vivi com o bilheteiro, que trocou de emprego para ficarmos juntos, por felizes quatro meses e meio, tempo suficiente para descobrir nossa incompatibilidade de gênios e nos separamos amigavelmente, tão amigavelmente que ele comprou-me um bilhete até Veneza. Parti acenando um lenço branco entre a fumaça da estação e deixei-o lá em pé com o boné no peito o que causou-me tamanho impacto que tomei doses cavalares de tranqüilizante para morrer. Acordei e fui para a Piaza San Marco dar milho e posar como suporte de pombos - e cocô de pombo - para os turistas. Porém os excrementos eram tão ácidos que afetaram minha saúde e acabaram com minha fonte de renda e forçou-me a buscar outra saída. Ofereci-me em uma papelaria chique como revisora da carta fiorentina, meu portfólio corroborou muito devo dizer, no que fui aceita como trabalhadora autônoma por tempo provisório. Sentei-me na prancheta exposta para venda e trabalhei arduamente na carta e transformei as florzinhas azuis sem graça em orquídeas amarelas que combinaram perfeitamente com os delicados traços e os dourados, além de acrescentar alguns toques de bromélias laranja bem alegres só que em tamanho reduzido para ficar proporcional, o que na minha opinião ficou perfeito, na minha, porque o casal dono da papelaria achou horrível e exótico demais, o que obviamente discordo com todas as minhas forças, mas como eu era a parte fraca no acordo reuni meu portfólio e fui-me embora não sem antes reclamar na secretaria italiana do trabalho e exigir indenização por assédio moral. Como fiquei na rua da amargura não tive outra alternativa a não ser ficar nela e tentar sobreviver, o que foi possível vendendo balas de hortelã nos pontos de travestis brasileiros.
Quando juntei algumas liras comprei uma passagem no expresso do oriente e embarquei na primeira classe, sendo recebida por um funcionário uniformizado e cheio de botões dourados, muito simpático por sinal, que durante toda a viagem serviu-me lautas refeições e deliciosas bebidas de frutas, se bem que gostaria de ter bebido umas caipirinhas mas desisti ao não encontrar cachaça mineira e açúcar de cana. Entre paisagens, refeições à luz de velas e passeios interessantes cheguei a Londres em um lindo dia de sol. Após correr um pouco no Hyde Park procurei emprego numa loja de chapéus e luvas no centro da cidade e comecei imediatamente. Parecia que nasci para a coisa pois nunca a loja vendeu tantos chapéus e luvas em sua vida de duzentos e dez anos o que
O bilheteiro, embora meio lento, era simpático, e começamos a flertar involuntariamente até que nosso romance tornou-se inevitável e terminei a viagem entre beijos e abraços. Em Istambul vivi com o bilheteiro, que trocou de emprego para ficarmos juntos, por felizes quatro meses e meio, tempo suficiente para descobrir nossa incompatibilidade de gênios e nos separamos amigavelmente, tão amigavelmente que ele comprou-me um bilhete até Veneza. Parti acenando um lenço branco entre a fumaça da estação e deixei-o lá em pé com o boné no peito o que causou-me tamanho impacto que tomei doses cavalares de tranqüilizante para morrer. Acordei e fui para a Piaza San Marco dar milho e posar como suporte de pombos - e cocô de pombo - para os turistas. Porém os excrementos eram tão ácidos que afetaram minha saúde e acabaram com minha fonte de renda e forçou-me a buscar outra saída. Ofereci-me em uma papelaria chique como revisora da carta fiorentina, meu portfólio corroborou muito devo dizer, no que fui aceita como trabalhadora autônoma por tempo provisório. Sentei-me na prancheta exposta para venda e trabalhei arduamente na carta e transformei as florzinhas azuis sem graça em orquídeas amarelas que combinaram perfeitamente com os delicados traços e os dourados, além de acrescentar alguns toques de bromélias laranja bem alegres só que em tamanho reduzido para ficar proporcional, o que na minha opinião ficou perfeito, na minha, porque o casal dono da papelaria achou horrível e exótico demais, o que obviamente discordo com todas as minhas forças, mas como eu era a parte fraca no acordo reuni meu portfólio e fui-me embora não sem antes reclamar na secretaria italiana do trabalho e exigir indenização por assédio moral. Como fiquei na rua da amargura não tive outra alternativa a não ser ficar nela e tentar sobreviver, o que foi possível vendendo balas de hortelã nos pontos de travestis brasileiros.
Quando juntei algumas liras comprei uma passagem no expresso do oriente e embarquei na primeira classe, sendo recebida por um funcionário uniformizado e cheio de botões dourados, muito simpático por sinal, que durante toda a viagem serviu-me lautas refeições e deliciosas bebidas de frutas, se bem que gostaria de ter bebido umas caipirinhas mas desisti ao não encontrar cachaça mineira e açúcar de cana. Entre paisagens, refeições à luz de velas e passeios interessantes cheguei a Londres em um lindo dia de sol. Após correr um pouco no Hyde Park procurei emprego numa loja de chapéus e luvas no centro da cidade e comecei imediatamente. Parecia que nasci para a coisa pois nunca a loja vendeu tantos chapéus e luvas em sua vida de duzentos e dez anos o que
resultou em um
quadro com minha foto como funcionária do mês, enchendo-me de orgulho. Porém eu
não parava de espirrar e fui ao médico, que diagnosticou alergia ao feltro
usado nas mercadorias, obrigando-me a pedir demissão contrariada. Pelo menos recebi um bom
dinheiro pela rescisão do contrato de trabalho e adquiri via internet um
bilhete eletrônico para o Suriname, onde cheguei animada, hospedando-me no spa
das especiarias que fazia tratamentos à base de pimenta, noz moscada, açafrão,
erva-doce, cravo, tomilho, além de mel, chocolate e aveia. Minha pele ficou
maravilhosa e comi do bom e do melhor
com poucas calorias e pouca gordura. Com os cabelos cortados e tratados, as
unhas manicuradas, a pele macia e roupas de algodão cru saímos o pessoal do spa
em grupo para o bar mais quente da cidade a fim de vermos e sermos vistos.
Saboreando uma espiga de milho quase engasguei ao ver atrás de nossa mesa um
homem perfeito, charmoso, bonito, e inteligente, como pude averiguar quando o
pessoal da nossa mesa chamou-o para juntar-se a nós. Após conversarmos umas
três horas ininterruptas estava cada vez mais admirada com aquele cara que
tinha gostos tão familiares, jeito tão confortável. E quando olhei nos seus
óculos escuros, que ele mesmo vendia, vi meu reflexo e com ele hasteei a
bandeira da escola onde trabalho, uma acadêmica em Vila Velha como sempre quis.
Veja a
primeira parte do conto “A enseada e a vendedora” no link: http://outros300.blogspot.com.br/2012/10/licenca-para-contar-tatiana-brioschi.html
E a
segunda parte no link: http://outros300.blogspot.com.br/2012/10/licenca-para-contar-tatiana-brioschi_28.html
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