sábado, 7 de julho de 2012

ENTREVISTA COM A CANTORA E ESCRITORA ANDRA VALLADARES

Andra Valladares reside na cidade de Vila Velha/ES, exerce a profissão de advogada e atua no cenário cultural como cantora/compositora e poeta/escritora. Publicou poemas e textos em aproximadamente 30 antologias literárias. Em janeiro desse ano, lançou o CD "Andra Valladares", seu primeiro trabalho musical autoral. A obra tem patrocínio da Lei Vila Velha Cultura e Arte e Prefeitura Municipal de Vila Velha. Andra também é integrante do grupo lítero-musical "Vozes da Vila". Membro e atual Vice-Presidente da Academia de Letras Humberto de Campos (Vila Velha/ES). Confira, abaixo, a entrevista com a artista:

1 – Olá, Andra. Primeiramente, queremos saber quando e como foi o seu primeiro contato com a arte musical? Como se deu o interesse?

Resposta: Sempre gostei de música, desde a infância gostava de dançar e cantar. Quando tinha aproximadamente 5 anos de idade, ganhei do meu pai um pianinho de brinquedo e foi com ele que compus minha primeira canção (letra e música), lembro-me dela até hoje. Depois ganhei um órgão elétrico, também de brinquedo. Assim, fui tomando gosto pela música. Minha família não tinha tradição musical e nunca fui estimulada a estudar música na infância, meu contato foi sem compromisso, sempre como brincadeira. Tínhamos poucos discos em casa, mas lembro-me que havia três LP´s do Milton Nascimento (“Travessia”, “Geraes” e “Caçador de Mim”) e desde a pré-adolescência me encantei por ele. Ainda hoje as canções “Travessia”, “Morro Velho”, “Caçador de Mim” e “Nos Bailes da Vida”, “O que Será (À Flor da Pele)” são minhas referências de boa música. Também tínhamos um LP da Gal Costa (“Fantasia”), repleto de canções antológicas como: “Canta Brasil”, “Meu Bem Meu Mal”, “Faltando um Pedaço”, “O Amor” e “Açaí”. Recordo-me também de um LP da Bethânia (“Álibi”), Roberto Carlos e alguns de música instrumental, principalmente do maestro francês Paul Mauriat, pois meu pai gostava muito e eu também escutava. Na adolescência, meu divertimento era gravar fitas K-7 com coletâneas, principalmente baladas internacionais que eram “moda” nas rádios da época. Somente quando tinha 20 anos de idade e comecei a namorar o meu atual marido é que tive um contato mais aprofundado com a MPB e a bossa nova, pois, a família dele sempre teve grande influência musical. Desde então, a partir do contato com vários autores e intérpretes da MPB e Bossa Nova, minha paixão pela música brasileira floresceu.

2 – Quais artistas mais influenciaram o seu jeito de cantar e compor?

Resposta: Com aproximadamente vinte anos tive meu maior contato com a MPB e a bossa-nova. Comecei a comprar CD´s de vários artistas e grupos brasileiros, dentre os quais destaco: Milton Nascimento, Tom Jobim, Vinícius de Moraes, Toquinho, Chico Buarque, Djavan, Caetano Veloso, Elis Regina, Nara Leão, João Bosco, Leila Pinheiro, Boca Livre, 14 Bis, Beto Guedes.

3 – Como surgiu a idéia do seu primeiro disco? Fale-nos mais acerca do álbum “Andra Valladares”.

Resposta: Após alguns anos de estudo de música e com várias canções compostas, resolvi que deveria iniciar a gravação do CD, pois queria realizar esse sonho. Assim, de forma totalmente independente, comecei a gravar as primeiras faixas do álbum no ano de 2006, pedi ao meu amigo Andrey Junca (contrabaixista) uma ajuda para arranjar um produtor e ele me apresentou ao Fabiano Araújo. Coincidentemente, os primeiros encontros que tive com Fabiano Araújo, foram no primeiro mês de gravidez do meu filho Gabriel. Portanto, me sentia duplamente grávida, gerando um filho e um álbum musical. Contudo, a gestação do meu filho fluiu bem e a do CD deu uma emperrada. Eu estava com sete meses de gravidez quando finalmente consegui gravar as bases de sete faixas em estúdio. Quando meu filho estava com cinco meses de idade, meu pai faleceu e isso foi um grande baque para mim. Não tive cabeça e nem disposição para gravar por um bom tempo. No final do ano de 2008, apresentei um projeto para finalização do CD no Edital da Lei Vila Velha Cultura e Arte, da Prefeitura Municipal de Vila Velha e tive o projeto aprovado. Contudo, foi muito difícil a troca dos bônus da lei e somente em dezembro/2009 consegui arrecadar uma quantia suficiente para finalizar o trabalho. Assim, apenas em 2010 voltei a gravar e mesmo assim houve alguns contratempos que também atrasaram a finalização.

O álbum é essencialmente autoral e nele foram gravadas onze faixas, dentre às quais apenas a última não tem minha participação como autora, trata-se da música “Três Apitos” (Noel Rosa). Nas outras faixas, existem composições de minha autoria exclusiva (“Samba do Boêmio”, “Estrelas Também Vivem Sós”, “Feliz”, “Se a Saudade Apertar”, “Miragens”); dois poemas musicados por mim, “Maria das Quimeras” (Florbela Espanca) e “Canção Para Uma Valsa Lenta” (Mário Quintana). As outras três faixas do álbum são parcerias, a primeira faixa do CD, “Morena Exibida”, uma parceria com minha mãe (Sandra Sarmento), as outras duas são parcerias com Fabiano Araújo (“As Voltas que o Mundo Dá” e “Não Tenho Coração”).

4 – Percebemos que muitos gêneros (como a Bossa Nova, o samba, a MPB) perpassam pela sua obra. Como você entende esta gama de possibilidades da canção?

Resposta: São as influências que sofri na infância, adolescência, na fase adulta e venho sofrendo até hoje. Não me prendo a rótulos, gosto de música boa e acho que independentemente do estilo musical o que vale é quando fazemos algo que nos agrada. Minhas composições são algo que fluem naturalmente, não tenho estudo aprofundado de música, já estudei um pouco de violão, mas a maioria das músicas que compus foi somente criando a melodia, usando apenas a voz como instrumento.

5 – Sabemos que você é poetisa e que compõe letra e música de suas canções. Como foi musicar versos de grandes poetas, como Mário Quintana e Florbela Espanca? Como se deu esse processo?

Resposta: Meu processo criativo é natural, intuitivo. Acho que por ter estudado as bases da poesia, ler muito e também escrever poesia, tenho muita facilidade para musicar poemas. Consigo captar rapidamente o ritmo dos versos e com isso criar uma melodia compatível com a mensagem que o texto me inspira.

Além dos poemas gravados no disco, tenho diversos outros poemas musicados de poetas renomados como Cecília Meireles, Castro Alves, Manuel Bandeira e também de poetas desconhecidos do grande público como: Horacio Xavier, Lílian Maial, Valsema Rodrigues, Nathan de Castro, dentre outros.

6 – Como você enxerga o cenário musical capixaba?

Resposta: Acho que a música no Espírito Santo teve um bom crescimento nos últimos anos, mas ainda falta apoio à classe artística, principalmente aos artistas no início de carreira. Também acho que a Grande Vitória é carecedora de espaços culturais, de casas de shows e teatros que possam divulgar o trabalho dos músicos locais.

7 – Em sua opinião, qual composição do disco tocou mais as pessoas?

Resposta: É um pouco difícil responder, pois cada pessoa que ouve o disco destaca uma música, mas as músicas que eu pessoalmente acho que são destaque: “As Voltas que o Mundo Dá”, “Canção Para Uma Valsa Lenta” e “Se a Saudade Apertar”.

8 – Como funciona seu processo de criação? Primeiro vem a letra ou a melodia? Você tem algum método ou é pura inspiração mesmo?

Resposta: Entendo o processo de criação como: “inspiração + transpiração”. A criatividade só entra em ação a partir da “vontade” de se fazer algo, nada cai do céu.

Não há uma preferência da minha parte quanto à maneira de criar, já compus de todas as formas imagináveis, tanto escrevendo letra para uma música pronta, quanto musicando poemas, compondo só a melodia e também fazendo música e letra.

Quando crio uma canção completa (letra e música), geralmente vou tentando encaixar a letra na melodia que surge, é como montar um quebra-cabeça. Contudo, as peças nem sempre se encaixam bem de imediato, e como sou um tanto perfeccionista, nunca me dou por satisfeita com a primeira versão. Vou criando e gravando a música com a letra do jeito que vem, para não perder o “fio da meada”, mas depois faço um bom trabalho de lapidação para “juntar as peças” de forma harmoniosa.

9 – Dada a alta qualidade da obra “Andra Valladares, queremos saber quais são seus novos projetos. O que você espera do futuro?

Resposta: Primeiramente, devo agradecer a classificação do meu trabalho como de alta qualidade, fiz o melhor que pude e o que foi do meu alcance. O trabalho aí está e tenho muito mais pela frente, tenho outros projetos sim, um deles é um CD infantil, pois também escrevo poesia infantil e já tenho um livro pronto para ser editado. Além da carreira solo, que pretendo seguir, também tenho outro projeto com o grupo lítero-musical “Vozes da Vila”, do qual faço parte e ao qual venho me dedicando desde outubro de 2010, sempre quis fazer parte de um grupo vocal e também difundir a poesia, portanto, participar do “Vozes da Vila” é uma grande felicidade para mim.






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