Chamemos de discursos o
reino dos ditos e dos escritos, independente da área do saber. Todas as
sociedades, sob esse ponto de vista, são constituídas de discursos, de ditos e
de escritos. Nelas e através delas um rigoroso controle dos discursos é implacavelmente
exercido, razão pela qual o desafio da ordem social, fundamental para qualquer
tipo de sociedade hierarquizante, está na relação direta com a ordem dos
discursos. Uma sociedade, pois, é a sua ordem discursiva, seus ditos e escritos
e principalmente seus interditos, suas escritas validadas, sagradas; e suas
grafias proibidas, desqualificadas, profanas.
Em A ordem do discurso (1970), o filósofo francês Michel Foucault propôs, como objeto de pesquisa precisamente isto: a história da ordenação dos discursos no interior da modernidade ocidental. Como uma edição escrita (um escrito de um dito) de sua aula inaugural no Collège de France,o livro A ordem do discurso de Foucault concentrou os principais temas com os quais o autor de Vigiar e Punir iria trabalhardoravante, motivo suficiente para a sua singular importância. Nele e através dele Michel Foucault procurou mapear o modo pelo qual a modernidade foi discursivamente organizada a fim de produzir seus próprios critérios de verdades e, portanto, de cientificidade.
Para tanto, Foucault
argumentou que três dispositivos externos aos discursos foram fundamentais para
as suas ordenações, no Ocidente. São eles: 1) A interdição da palavra; 2) a
segregação da loucura; 3) a vontade de verdade. O primeiro dispositivo, a
interdição da palavra, desdobra-se em dois campos interditados discursivamente:
o sexo e a política, o que significa dizer que, na história da modernidade
ocidental, o sexo e a política deveriam entrar literalmente numa ordem
discursiva; deveriam ser ordenados como discursos ou simplesmente
constituírem-se, se quisessem ser validados socialmente, como partes e
contrapartes de uma ordem social que reconhecia de antemão o especial perigo da
política e do sexo, de modo que, mais que evitá-los e expulsá-los da ordem
discursiva vigente, o importante seria a classificação e a distribuição
ordenada da política e do sexo, produzindo, por exemplo, um sexo sem política e
uma política sem sexo, separando-os.
O poder no corpo da vida
De alguma forma, portanto, a palavra-chave para os
discursos válidos, no Ocidente, era e é: a separação da política do sexo, a
partir da ordenação discursiva de ambos. E aqui entra uma questão que Foucault
desenvolveu melhor noutro livro, História da sexualidade: vontade de saber (1976), precisamente tendo em vista o
conceito de biopoder, a partir do qual o que estava
e está em jogo foi e é a invenção/produção do sujeito moderno. É por isso que,
para a constituição do biopoder moderno/pós-moderno, o mecanismo da confissão
tornou-se extremamente importante, o que significa dizer que o que esteve e
está em jogo não foi e não é a proibição/repressão do sexo e da política mas
antes de tudo a colocação de ambos em discurso. Para produção do sujeito
moderno/pós-moderno é preciso fazê-los confessar como sujeitos políticos e
sexuais. A palavra de ordem tornou-se, na modernidade, a seguinte: confesse-se!
Sob essa perspectiva, a
modernidade (sempre incluo a época atual) pode ser concebida como um imenso
confessionário, a partir do qual, ajoelhados, confessamos nossas sexualidades e
nossas políticas. Mais que reprimir a política e o sexo, o biopoder é o
dispositivo da ininterrupta produção do sujeito em permanente estado de
confissão de si. Uma vez segregado o louco, internado em hospícios ou
assujeitado pela ingestão de fármacos, o sexo e a política deverão confessar-se
no divã da ordem discursiva, revelando-se seja como direita, esquerda,
socialdemocrata; ou, no que se refere ao sexo, assumindo confessadamente a sua
identidade sexual, se homem, mulher, homossexual feminino, masculino, travesti,
trans, bi.
O importante, eis aí o
biopoder, é a sua confissão. A modernidade burguesa, hoje planetária, pode ser
definida como um sistema mundial de confissão. Confesse-se, é sua palavra de
ordem, como mulçumano, como cristão, como direita, como esquerda, homem,
mulher, gay, ocidental, oriental, asiático, africano, índio, latino-americano,
poeta, escritor, professor. Seja o que queira ser apenas confessando o que
deseja ser. É assim que somos todos entrelaçados pelo biopoder, pelo poder no
corpo da vida, afirmando-a a partir mesmo de si, sem precisar, necessariamente,
de repressão, de grito, de medo.
A proposta do panóptico
Seja alegre confessando-se
o que deseja ser. Esta é a divisa da modernidade, seu modo de organizar os
discursos, produzindo uma humanidade discursivamente confessional. Quer modo
mais eficiente e engenhoso de controle social que este: um sistema mundial de
confissão de si, ao mesmo tempo de forma alegre, religiosa, afirmativa,
partindo mesmo do sujeito espontaneamente confessado, confessando-se? Se o
maior desafio dos soberanos, desde que o mundo é mundo, foi o de entrar nos
segredos dos súditos a fim de apanhá-los em flagrante delito, punindo-os
exemplarmente, em praça pública, a modernidade ocidental, por sua vez, é a
civilização da confissão em praça pública. Seu principal êxito, portanto, é
este: a produção de tecnologias de confissão que estimulam as pessoas a se
confessarem. Quer situação mais favorável que essa, para os poderes
constituídos?
Um vez confessando-se o que
deseja ser, o mercado mundial de produção mercadorias para os confessados te
apanha em todas as encruzilhadas do mundo. Você não é mais perigoso. Está
perfeitamente incluído, mesmo que seja um excluído, confessando-se como tal. O
biopoder é a confissão de si de tal modo que, confessando-se, você se torna
perfeitamente conhecido, previsível, moldável, palatável, comercializável. Se o
que marca a modernidade capitalista é a falsa universalidade do mecanismo de
compra e venda, confessando-se você não apenas se torna uma mercadoria, mas
também, mais cedo que tarde, encontrará as mercadorias ideais para a sua
identidade confessada, para os seus desejos, razão pela por que você entrou no
circuito do capital. Foi apanhado. Transformado em um cordeiro do Deus
dinheiro.
Se os poderes constituídos investem inteligência,
trabalho, pesquisa, recursos tecnológicos para a produção social da ordem
discursiva que convém a um determinado modelo de sociedade, é porque sabem que
manter a ordem discursiva, mesmo que seja através do caos, é fundamental para a
sobrevivência deles. Uma sociedade de tipo opressora, fechada (isso não é uma
fatalidade ou uma condição humana) nos interesses de oligarquias, precisa
vigiar e punir, título, aliás, de outro livro de Foucault, Vigiar
e punir (1975), no
qual o autor de da História da loucura (1966) ao mesmo tempo descreve,
desenvolve e amplia a proposta do panóptico – que significa etimologicamente
visão total – originalmente apresentada pelo filósofo Jeremy Bentham em 1785
para construção de centros penitenciários seguros.
Mostrando-nos e pagando para isso
O panóptico de Foucault
é arquitetural e tem a cadeia como modelo para as demais instituições sociais:
a escola, o quartel, o hospício. A partir de Bentham, Foucault o descreve como
uma prisão que tem uma torre no centro, sendo contornada por celas com abertura
nos fundos e na frente, de tal maneira que, a partir da torre de comando, o
preso é visto sem que possa ver, de modo a criar uma sensação, nele, de que
está sendo vigiado em tempo integral, mesmo que não haja ninguém na torre de
vigilância. O conceito de superego de Freud não deixa de ser um panóptico do
inconsciente, pois parte de um princípio semelhante: o sujeito a si mesmo se
vigia, incorporando a moral social, sem precisar necessariamente de ninguém
para controlá-lo.
De qualquer maneira, embora
o panóptico de Bentham/Foucault ainda seja uma realidade arquitetural,
sobretudo nas grandes cidades ( tomadas por câmeras de vigilância), já não é o
modelo de referência do mundo contemporâneo.Tornamo-nos servidores de servidores
do tipo Google, Windows, G-Mail, Android, Facebook, pois somos uma grande rede
social de confissão de nós mesmos, abastecendo sem cessar os centros de poder
oligárquico do mundo inteiro, sobretudo o ocidental, marcado por um
fundamentalista extremismo bélico. O panóptico contemporâneo é o do biopoder da
confissão. Nele e através dele e por ele, a partir de nosso desejo, caímos
literalmente na rede, na Web, como peixes, confessando-nos subjetivamente e,
por consequência, alegremente nos mostrando sem que possamos ver quem nos
esquadrinha e vigia e muito menos quais as suas verdadeiras intenções:
domesticar, punir e matar!
Na atualidade, o centro
sísmico do panóptico se inscreve nas tecnologias de confissão, chamadas
normalmente de meios de comunicação, pois é através delas que somos apanhados,
vigiados, em tempo real, nos confessando, nos revelando, nos mostrando e,
pasmem, pagando para isso, através de contas de telefonia fixa ou móvel,
através de provedoras de internet, num contexto em que o papel da televisão é
precisamente o de nos estimular a confessar, a fim de, nos confessando, usar as
tecnologias de confissão de modo a, através delas, sermos arquivados,
previamente conhecidos, ao usarmos celulares, redes sociais, escrevermos
e-mails, produzimos sites, blogs.
Um cenário teatral reificado
Tendo em vista esses argumentos, é possível afirmar
que toda a programação da TV Globo (nunca apenas) não passa no fundo e no raso
de estímulo à confissão, na suposição de que devemos ser seres confessionais,
se quisermos ser pessoas boas, inteligentes, despojadas, alegres, bem
resolvidas, amadas. Programas como telenovelas, A
grande família, A
mulher invisível, As brasileiras, Como
aproveitar o fim do mundo, Altas horas, Amor
& sexo, Esquenta!, As
cariocas, Tapas e beijos,Encontro, Louco
por elas, entre outros, não passam de estímulos à produção de uma
sociedade da confissão, ao nos apresentar personagens que são divertidos,
inteligentes, rebeldes, desejáveis, sem recalques precisamente porque têm a
coragem de se confessarem como amantes, como bandidos, como gays, como
frustradas, como suburbanos, favelados, politicamente corretos, principalmente
no que diz respeito ao dispositivo da sexualidade, pois este nada mais é do que
a senha a partir da qual, se nos confessamos através dele, tendemos a ser
vistos como desejáveis pessoas além de nossa época.
Nada mais reacionário e
absolutamente previsível que as confissões sexuais fundadas na crença no
despojamento, no desprendimento e na liberdade subjetivas, individuais.
Confessar-se sexualmente, no que diz respeito ao biopoder contemporâneo, cumpre
um duplo papel conservador: 1) substitui a política como espaço de decisão
transformadora, através da manietada presunção liberal de que justiça é antes
de tudo uma questão de confissão de sua suposta diferença sexual; 2) transforma
o campo dos direitos civis em teatro planetário das confissões de identidade,
de tal maneira que tudo que é democrático, audacioso, talentoso, digno,
relevante, sensato, inteligente, criativo diz respeito – eis aí a nossa
fundamentalista crença – às confissões adstritas aos direitos civis, confissões
de diferenças sexuais, étnicas, religiosas, de gênero e mesmo de classe, num
contexto em que a diferença é reificada e passa a valer por ela mesma, perdendo
todo o vínculo com a justiça econômica coletiva.
Vivemos, pois, num planeta
do biopoder confessional, razão por que, por herético que possa parecer tal
afirmação, não existe diferença fundamental entre o deputado Marco Feliciano –
confessadamente racista e sexista – e os críticos confessionais, as alteridades
de gênero e étnica que o reprovaram e reprovam, quando ocupam e assumem o
confessionário narcísico da confissão pública de si. É claro que Marco
Feliciano jamais deveria ter ocupado a presidência da Comissão de Direitos
Humanos da Câmara dos Deputados. Aliás, o fato dele ser um deputado é
precisamente o que nos torna hoje todos iguais, não obstante nossas profundas
diferenças, pois todos nos confessamos o que desejamos ser. A sociedade da confissão
elegeu o pastor Feliciano porque ele é um confessado e confessados votam em confessados. Essa
é a divisa civil de nossa época, na qual todos vivemos num mesmo cenário
teatral reificado, vinculado exclusivamente ao campo dos direitos civis. Todos
somos tomados pelo biopoder confessional contemporâneo. Todos estamos
gradativamente nos tornando, enfim, mercadorias do capital: compramos e
vendemos confissões, tendo em vista a nossa própria diferença confessada.
O sistema internacional de confissão
É por isso igualmente que o programa Agora
é tarde (Band),
apresentado por Danilo Gentile, do começo ao fim é biopoder confessional. Nada
tem de inteligente, de criativo e de vanguarda, sendo simplesmente a retaguarda
da retaguarda, com seus clichês de clichês confessionais presunçosamente
joviais, iconoclásticos, despojados, alegres. Danilo Gentile é a encarnação
classe mediana do dispositivo da sexualidade não apenas exilado da dimensão
política, mas motivado e engendrado para desqualificar a política, entendida como
suporte coletivo da decisão sobre o nosso próprio destino social.
Vivemos numa civilização fundamentalista
precisamente porque por todo lado o que vemos é confessionário para nos
confessarmos. Por todos os lados a confissão é a regra geral e só ela é valorizada,
de modo que, se não nos confessamos, seremos vistos como autoritários,
ignorantes, pervertidos, anacrônicos.
Quer se dar bem numa sociedade como a nossa, para
começo de conversa, confesse-se. Seja um confessado, alegremente,
afirmativamente, narcisicamente. Assuma a sua confissão de si em público e
requisite-a como princípio dos princípios, valor dos valores. Do contrário,
será a encarnação do mal, como ocorre, por exemplo, na configuração do
personagem Félix Khoury, representado pelo ator, Mateus Solano, da novela das 9
da vez, Amor à vida. A prova mais cabal da
perversão caricatural do personagem deriva antes de tudo de sua incapacidade de
confessar a sua diferença sexual, fingindo ser um heterossexual quando na
verdade é gay.
A moral da história:
desconfie de todo aquele que não confesse publicamente a si mesmo. Sendo
enrustido, terá tudo para ser a encarnação diabólica da maldade. Clichê de
clichê de clichês fundamentalistas. O verdadeiro lugar da maldade no
contemporâneo é, pelo contrário, o sistema internacional de confissão de si. É
nele que todas as aberrações se tornam naturais, possíveis.
Uma lição de política para o mundo
Não é circunstancial, a
propósito, que o supostamente laico imperialismo ocidental está confessadamente
vinculado à al Qaida: ambos são fundamentalistas da confissão. O primeiro, o
Ocidente, detém o fundamentalismo da confissão do tudo pelas corporações e
confessadamente põe seus exércitos nos ares, mares e terras para,
apocalipticamente, salvar o ultrafundamentalista Deus lucro de suas
multinacionais, o confessionário-mor; o segundo, por sua vez, sendo o
fundamentalismo religioso, sabe como ninguém que tudo funciona de Deus para
Deus, do Deus transcendental para o Deus Dólar, pois sempre estamos diante de
uma questão de adoração confessada: o Ocidente e o Oriente, religiosamente.
A mesma questão pode ser
dita no que se refere à Irmandade Mulçumana, confessadamente eleita pelo Deus
do imperialismo ocidental para, falando em nome de seu fundamentalismo religioso,
sem contradição alguma, falar também em nome do imperialismo ocidental. É por
isso que a ideia dominante de “eleição democrática” no Oriente Médio,
patrocinada pelo fundamentalismo ocidental, é: eleja alguém confessadamente
ligado à Irmandade Mulçumana! Qualquer outra escolha não confessada será vista
como fraude, despotismo, ditadura, populismo e sofrerá um confessado ataque
midiático e bélico internacional.
Ser fundamentalista é a
divisa de nossa época, assim como fazer-se de forma laica, sem partir da
missionária e narcísica confissão de si, é tudo que o biopoder contemporâneo
não quer de nós. Reside aí a razão principal da total falta de compreensão no
que diz respeito aos protestos que se espalham pelo Brasil (tendo começado aqui
em Vitória, ES) e a acusação infelizmente tanto do PT como do PSDB a respeito:
são jovens de classe média! O que assusta nessas rebeliões estudantis é
precisamente o fato de que a molecada saia para as ruas para lutar por uma
agenda que não é confessadamente apenas e antes de tudo delas, na suposição de
que só é legítima ( afirmação cínica, é claro) uma revolta baseada na mais
rigorosa confissão de si. A luta por um transporte coletivo de qualidade não
pode ser protagonizada por ninguém mais que a própria população confessadamente
pobre diretamente prejudicada.
Fala-se tanto de
alteridades confessadas e, no entanto, proibe-se terminantemente uma política
reivindicativa de alteridade para alteridade, que não coloque o seu próprio
umbigo diante das demandas de justiça. É evidente que isso ocorre porque a
verdadeira palavra proibida de nossa época não é mais a que pertence ao campo
da sexualidade, mas a palavra política, entendida como política do comum, de
todos e de ninguém, não narcísica, não fundamentalista, não autoconfessional ou
autoafirmativa, mas a política como escolha pública pela justiça coletiva,
nunca particular.
O protesto estudantil
contra o aumento das passagens de ônibus, na verdade uma magnânima luta comum
pela qualidade do transporte coletivo, por si só uma confessada violência
contra a população, é uma lição de política para o mundo todo, porque fazer
política hoje só é possível no plano da não confissão de si, fora do
confessionário do capital.
Direito divino
Se fazer política, no
sentido positivo, implica necessariamente sair do confessionário e lutar no
campo do comum, pelo comum, não podemos ser ingênuos e acreditar cegamente, por
outro lado, nas forças políticas nelas mesmas, por elas mesmas. A verdadeira
palavra de ordem trágica de nossa sociedade é a reificação, cuja definição é
simples: tirar algo de seu contexto e lidar com ele como se pudesse funcionar
por conta própria. Paradoxalmente mesmo demandas com apoio em necessidades
coletivas podem ser reificadas, isto é, descontextualizadas e tomadas por grupos
de interesses que nada tem de coletivos, antes pelo contrário.
As corporações midiáticas fazem sem cessar isto:
produzem, no campo da representação, uma reificação generalizada de nossa
sociedade. Tudo é reificado e tende a viver a si mesmo como reificado,
isolando-se, descontextualizando-se. No contexto brasileiro, a representação
das lutas políticas por melhores condições de transporte, por garantia de
direitos de saúde e educação de qualidade, pelo acesso digno à terra, através
da reforma agrária, enfim toda e qualquer demanda política de dimensão coletiva
tenderá a ser editada pelas corporações midiáticas com o objetivo claro de
desgastar o Governo do PT, a fim de fazer que o Brasil volte a ter, em
termos absolutos, como na época do PSDB, um governo federal totalmente
submetido aos interesses dos Estados Unidos, assumindo sem pejos assim a nossa
condição de vira-lata e, portanto, de pátio traseiro do Tio Sam.
Não obstante os erros
graves que o PT tem cometido, principalmente o erro de fazer o jogo dos
traidores, é preciso separar claramente as reificadas representações midiáticas
das lutas sociais nelas mesmas, de suas legítimas apresentadas demandas, se não
quisermos voltar à ordem discursiva historicamente cumprida, servilmente, pelas
elites brasileiras: a ordem se serem o principal obstáculo para uma América
Latina ( e um mundo) cuja expressão política “desordeira” seja: soberania para
decidir seu próprio destino, com justiça coletiva, dizendo não ao direito de
morte, nunca de vida, dos soberanos do capital, inclusive o midiático.
A entrevista no Fantástico de uma militante do movimento Passo
Livre, de São Paulo, nada tem de vontade de informar, com transparência, mas
antes, pelo contrário, é parte do direito de morte que a TV Globo julga, como
destino manifesto, ter sobre todos nós.
O nome desse divino direito
de morte é um só: as reificadas representações midiáticas de nosso cotidiano,
de nossa alegria, tristeza, desejo, sofrimento; de nosso, enfim, direito de
viver, sem servidão forçada, despótica, letal; e também sem biopoder - sem
servidão voluntária.
***
(Texto de Luís Eustáquio Soares)
Luís Eustáquio Soares é poeta, escritor e professor da UFES
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