sábado, 29 de junho de 2013

LICENÇA CRÔNICA: CARLOS ALEXANDRE DA SILVA ROCHA


Carlos Alexandre da Silva Rocha nasceu em Vitória-ES em 1988. Escreve desde os treze anos de idade e tem como influências Drummond e os escritores simbolistas. Em 2008, lançou, pela Lei Rubem Braga, o livro de poemas “Um homem na sombra”, que aparentemente se coloca aos olhos do leitor como algo simples. Entretanto, como o livro versa sobre as angústias humanas, ele torna-se não tão fácil de ser encarado. Carlos Alexandre é formado em Letras-Português pela UFES e escreve no Blog Pierrô crônico (www.pierrocronico.blogspot.com). Confira, abaixo, a crônica “Tremeluziu?”:


TREMELUZIU?

Adorava palavras, quando criança ganhara um Aurélio com todas as palavras. Ele fora subtraído por ser indecente, perguntara a mãe se ainda existia a orgia, queria provar da euforia, o dicionário ardera na fogueira da proibição.  Tinha a maior fissura por figuras de linguagem, o seu grande amor e paixão. Gozava longamente ao escutar uma metáfora. As anáforas, então?! Soavam-lhe como um entardecer barroco. Sublime. Sôfrego. Excitava-se lendo sermões barrocos. Tremeluzia no âmago das coisas, gemendo aos sussurros:
“Anáforas, meu Deus, anáforas...”.

Se a cara metade usasse o pronome mesoclítico ao verbo, se apaixonava, quase virava um pano de chão, suplicando atenção ao rês do chão, babando os pés da amada com seus beijos molhados.
“Dar-te-ei mais tarde.”
“Oh Deus, por ti darei minha vida”. Retrucava ele se jogando no chão, beijando os pés da dita cuja.

Era um sujeito hiperbólico. Excêntrico, na pior medida. Amava numa entrega absoluta, num neo-romantismo piegas. Jurava que morreria por amor se ela o abandonasse. Não viveria mais. Cometeria uma loucura.
Todos sabiam que ele tinha vertigens até quando subia em banquinho. Cometer loucuras? Isso nunca!
A única coisa que o deprimia e o deixava triste era um horrível cacófato. “Amo ela” lhe dava calafrios, ânsias de vômito.
Numa tarde de amor, em que os corpos rezam súplicas, ela sussurra em seu ouvido:
“Vem, amor, vem me ter, vem... Vem me ter aos poucos...”

Ele como se visse um fantasma arregala os olhos e começa a olhar tétrico para a parede, em estado de choque. Nunca pensou que ela seria capaz, logo ela que usava a mesóclise! No canto de seu olho adivinhava-se uma lágrima a precipitar cálida nos lençóis.
Ela sem entender se pergunta se já acabou. Nunca ele tinha negado fogo. Sempre implorava que ela gritasse “foder-me-á”, para entrar no clima.

Entretanto, até aquele momento não falava nada. Será que ele foi tão ligeiro assim? Ela se enrosca em seu pescoço procurando respostas.
“E aí, amor, tremeluziu?”
“Não... Sumiu!” – retruca ele chorando desgostoso, aos soluços, num desespero rompante, como se estivesse nas últimas instâncias do viver.


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