A TABULETA
No final da década de 1880, a Monarquia
brasileira já estava numa situação de crise, pois representava uma forma de
governo que não correspondia mais às mudanças e os anseios sociais em processo. Fazia-se
necessário á implantação de uma nova forma de governo, que fosse capaz de fazer
o país progredir e avançar nas questões políticas, econômicas e sociais.
Embora isso não fosse uma opinião
majoritária e nem de conhecimento de todos, as coisas fluíam para o fim da
Monarquia e a ascensão da República. Alguns críticos defendem que esse fato foi
tão rápido que quando aconteceu até pessoas do alto escalão da Monarquia não
sabiam o que acontecia na noite de 15 de Novembro de 1889.
A crise do sistema monárquico
brasileiro pode ser explicada através de algumas questões como, a interferência
de D. Pedro II nos assuntos religiosos, provocando um descontentamento na
Igreja Católica. As críticas ferrenhas feitas por integrantes do comando do
Exército Brasileiro, que não aprovavam a corrupção existente na corte. Além
disso, os militares estavam descontentes com a proibição, imposta pelo Monarca,
pela qual os oficiais do Exército não podiam se manifestar na imprensa sem uma
prévia autorização do Ministro da Guerra.
A classe média (funcionário
públicos, profissionais liberais, jornalistas, estudantes, artistas,
comerciantes) estava crescendo nos grandes centros urbanos e desejava mais
liberdade e maior participação nos assuntos políticos do país. Identificada com
os ideais republicanos, esta classe social passou a apoiar o fim do Império. A
falta de apoio dos proprietários rurais, principalmente dos cafeicultores do
Oeste Paulista, que desejavam obter maior poder político, já que detinham
grande poder econômico.
No dia 15 de novembro de 1889, o
Marechal Deodoro da Fonseca com o apoio dos republicanos, demitiu o Conselho de
Ministros e seu presidente. Na noite deste mesmo dia, o marechal assinou o
manifesto proclamando a República no Brasil e instalando um governo provisório.
A Monarquia Brasileira chegava ao fim.
No dia 18 de novembro, D. Pedro II e a família imperial partiam rumo à Europa.
Tinha início á República Brasileira com o Marechal Deodoro da Fonseca assumindo
provisoriamente o posto de presidente do Brasil. “A partir de então o país
seria governado por um presidente escolhido pelo povo através das eleições. Foi
um grande avanço rumo a consolidação da democracia no Brasil”.
No ano de 1889 o Rio de Janeiro, era a cidade com o título de Capital do
Império Brasileiro, e até esse ano ainda comandado por D. Pedro II e sua corte.
Aqui já se havia rumores de alguma coisa sobre a queda do “Império” e o
surgimento de um novo regime, a “Republica”. Porém como citado supra não era de conhecimento de todo
povo e nem de todas as classes populares, e digo mais, gente da própria casta
política tanto da Monarquia quanto da República não sabia da “novidade”.
O conservadorismo era tanto que
Custódio o dono da “Confeitaria do Império” fundada desde 1860, resistia em
trocar a tabuleta da fachada de sua loja, não tanto pelo valor sentimental
mais, mais pelo valor financeiro, ou seja, os custos da reforma ou troca da
tabuleta com o nome da sua tão estimada “Confeitaria do Império”.
Mesmo com muita resistência acertou
na segunda semana de Novembro de 1889 com o artesão que faria a reforma ou a
nova tabuleta. O artesão não aceitou a reforma dizendo ser inútil e perda de
trabalho reformar tal velharia e assim convence Custódio com muito custo que o
melhor seria uma tabuleta nova, e ficando acertado que sua exposição seria para
domingo de manhã. (17 de Novembro de 1889).
Com a divulgação de boatos da parte
de quem sabia dos rumores os comentários chegaram as pessoas e chegou a notícia
da queda da Monarquia que ocorreu na Sexta feira dia 15, Custódio foi mais
breve que pode e mandou lograr um bilhete ao artesão pedindo com estas palavras
“que parasse no D”. “Confeitaria d”.
Quando Custódio lá chegou, viu-se em
desespero e a tabuleta já estava acabada e numa cor intensa lia-se “Confeitaria
do Império”. Custódio não sabia se chorava pela tabuleta ou pela Monarquia que
desmoronava como um castelo de areia, e lá a deixou a tabuleta pedindo que
o artesão esperasse sua decisão. Foi ter
com um amigo conselheiro para saber como agir neste difícil momento.
Ficaram horas a fio a pensar, surgiram
estas ideias as quais mais ou menos rejeitadas e ás vezes por momentos aceitas.
Se ficasse como estava os republicanos ficariam ofendidos, e se fosse mudado
para “Confeitaria da República” e essa não passasse de momentos seria o
trabalho e dinheiro perdido. Então seu amigo sugeriu “Confeitaria do Governo”,
porém o próprio Custódio, mesmo atordoado não aceitou e disse que; “todo
governo tem oposição, e os opositores poderiam tomar partido disso, e o mesmo
não queria desavenças ou desagradar ninguém”.
Após um bom tempo o amigo sugeriu,
“Confeitaria do Catete”, já que a mesma estava na rua do Palácio do Catete.
Outra vez Custódio replicou que mesmo sendo assim não o podia, pois havia
outros comércios na localidade com este nome. Continuando o raciocínio saiu a
melhor e mais aceitável ideia “Confeitaria do Custódio” seria seu próprio nome
e não desagrada nenhum tipo de regime ou partido político ou outro tipo de
agremiação que fosse. Mesmo meio cabisbaixo Custódio assentiu e foi para casa
repetindo a anedota. “Confeitaria do Custódio”, “Confeitaria do Custódio”,
“Confeitaria do Custódio”, “Confeitaria do Custódio”.
Este caso prova que tudo se pode
amar muito bem, ainda um pedaço de madeira velha. Creiam que não era só a
despesa que ele naturalmente sentia, eram também saudades. Ninguém se desapega
assim de um objeto tão íntimo, que faz parte integral da casa e da pele, porque
a tabuleta não foi se quer arriada um dia. Custódio não teve ocasião de ver se
estava estragada. Vivia ali como as portadas e a parede. (ASSIS, 1975. pg.
115).
(Texto de Lucimar
Simon baseado da obra Esaú e Jacó: Machado de Assis)
Lucimar Simon nasceu em Linhares – ES em 1977. Suas influências são diversas perpassando por autores de Clássicos da Literatura Brasileira e Estrangeira. Busca ler e acompanhar a Literatura Contemporânea bem como os ditos “poetas marginais”. Seus textos compõem uma escrita simples dedicada a fatos cotidianos, memórias, experiências acadêmicas e sua vida pessoal, e podem ser conferidos em Antologias e Coleções Poéticas da Câmara Brasileira de Jovens Escritores em: “Novos Talentos do Conto Brasileiro”, “Contos de Outono”, “Livro de Ouro do Conto Brasileiro”(2009) e “Antologia de Poetas Brasileiros Contemporâneos Nº54”, todos publicados em 2009. Lucimar Simon é Graduado em História pela UFES. Pós Graduado em História e Literatura – Texto e Contexto pela UFES.
Obrigado pela divulgação amigos do blog.
ResponderExcluirDesde quando a Velha República foi um salto em direção a democracia? Nas eleições para o Parlamento, em 1889, 20% da população votou. Em 1893, após quatro anos de ditadura de Da Fonseca e Peixoto, apenas 2,5% pôde votar.
ResponderExcluir