Anaximandro
Amorim (1978) é
escritor, advogado, bacharel em Direito pela Universidade Federal do Espírito
Santo (UFES) e pós-graduado em Direito pela Escola da Magistratura do Trabalho
da 17ª Região (EMATRA - 17ª Região). Membro da Associação dos Professores de
Francês do Estado do Espírito Santo (APFES), do Conselho Estadual de Cultura,
da Academia Espírito-Santense de Letras e da Academia de Letras Humberto de
Campos, de Vila Velha/ES. Confira, abaixo, a crônica “O senhor do tempo”:
O SENHOR DO TEMPO
Hoje, enquanto escrevo esta crônica,
resolvi tirar a manhã para mim. Você vai dizer "absurdo, vai procurar o
que fazer". Pois bem, fiquem sabendo que, justamente, eu faço coisa pra
caramba. Quem me conhece sabe disso. Assim, resolvi inovar e tentar ficar no
ócio, no duro afã de ter, pelo menos, uma fração do dia para mim, só para mim,
e mais nada. E, confesso, amigo leitor... porque a liberdade tem um preço meio
alto, como é difícil a arte do não fazer nada.
Engraçado dizer isso mas, se você que
está lendo essas linhas for como eu, "plugado na tomada", talvez
saiba direitinho o que estou falando. Ficar sem fazer nada é o pior castigo dos
que sempre têm algo a fazer... e que, quando não têm, procuram. É uma
verdadeira arte, é muito, muito difícil ficar parado, tentar não se comprometer
com nada. Dá vontade de fazer milhares de coisas, daquele livro que precisava
ser lido àquela gaveta que tinha de ser arrumada.
Dizem que antigamente, na Grécia Antiga,
os filósofos vivam no ócio - e daí nasceram tantas teorias. Os grandes
artistas, pintores, músicos e até mesmo escritores também procuravam o tempo
livre - e nele, criavam. Naquela época, o mundo parecia andar mais devagar, as
pessoas não tinham a mesma pressa. E olhe que, o minuto do Século XXI tem a
mesma quantidade de segundos que o do Século XIX ou XVIII!
Hoje, parece que tudo ficou acelerado. A
gente já começa o dia no automático, acorda tomando banho, tirando filho da
cama, fazendo café, abrindo a porta pra empregada... É estranho, mas, com
tantas "facilidades", com tanta tecnologia e meios avançadíssimos de
comunicação, "tirar um tempo" pra si ficou muito difícil e, quando
isso acontece, parece até que estamos pecando... ou até cometendo um crime. Dos
mais atrozes.
É uma pena perdermos um outro lado da
vida, o da contemplação. É certo que o mundo de hoje em nada se parece com o
dos séculos passados, mas, às vezes, eu me questiono se, para aquelas pessoas,
o relógio também não corria depressa, de outro modo. Talvez esses filósofos ou
artistas não fossem assim tão ociosos, mas tivessem a sensibilidade de
aproveitar seu tempo de forma mais criativa, coisa que nós, autômatas, deixamos
de fazer, cada vez mais, imperceptivelmente.
É por isso que hoje, só hoje, resolvi
provar um pouquinho de como é ser senhor do meu próprio tempo. Sim, é muito
difícil. Mas, de vez em quando, necessário, só pra nos mostrar quão louca é
essa correria da vida. Porque o tempo pode ser o mesmo, em qualquer século. Mas
o que muda é a percepção que temos dele. E, quando a gente percebe, muito,
muito já se passou. Sobretudo àqueles
que têm sempre um montão de coisas pra fazer. Como eu, daqui a pouco.
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