sábado, 1 de junho de 2013

LICENÇA PARA CONTAR: SARAH VERVLOET


Sarah Vervloet nasceu em Vila Velha, no Espírito Santo, em 1989. É graduada em Letras-Português pela UFES e atualmente cursa o Mestrado em Letras/ Estudos Literários na mesma universidade. É professora e também escreve irregularmente. Foi contemplada em um concurso de Literatura da Secretaria de Cultura do Espírito Santo, na categoria contista estreante e seu livro está no forno. E-mail: sarahvervloet@gmail.com e Blog: http://chadechama.blogspot.com.br. Confira, abaixo, o conto “Passadiço”:

PASSADIÇO

Toca o telefone feito um alarme disparado. Irrita-me aquela insistência sonora, mas falta-me vontade de saber quem está do outro lado da linha. Tocou até o fim. Não era muito difícil adivinhar quem estava ligando: era Carmem, uma criatura importuna que não para de falar. Este mês ela decidiu dar continuidade a um projeto antigo, praticamente morto e jogado às traças, sobre as ambições humanas. Só o que me faz manter essa amizade entre nós é a minha vontade de escrever poemas. Sim, porque ela não faz cerimônias para jogar-me inspiração. No entanto, hoje o dia estava agitado demais para aventuras de longas conversas. Verdade que evitá-la por muito tempo não seria tão fácil e, portanto, era melhor que o tempo fosse rapidamente aproveitado.
Duas pedras de gelo para um Ballantine's de alguns anos, uma luminária acesa. O silêncio foi interrompido, desta vez, pela própria voz. E ti ricordi solamente, passerà. Envolvia-se com seus pensamentos, com passos de dança e a garganta molhada. Sabia que sua maior ambição estava bem perto, fascinada por aquele revestimento másculo.  Che sia odio, o che sia amore... Passava na janela um pássaro de olhos vermelhos. Passava também uma mensagem codificada. Tudo aquilo lhe havia aberto o apetite, como se seu estômago estivesse exposto, sensível a qualquer animal. Reviu os primeiros versos, mas sentiu falta de algo. Pela primeira vez não conseguira terminar o poema. Olhou novamente a janela, destruiu os fios do telefone e voltou a falar consigo mesmo. Passerà, passerà...


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